Ramanuja
Sri Swami Sivananda
Ramanuja nasceu no ano de 1017, na aldeia de Perumbudur, localizada cerca de 25 Km a oeste de Madras. Seu pai era Kesava Somayaji e sua mãe Kantimathi, era uma senhora muito piedosa e virtuosa. O nome de Ramanuja em Tamil é Ilaya Perumal. Ramanuja perdeu seu pai muito cedo. Então foi para Kamcheepuram prosseguir com seus estudos dos Vedas sob a orientação de um Yadavaprakasha, um professor de filosofia Advaita.
Ramanuja era um aluno muito brilhante. As interpretações dos textos Védicos pelo Yadavaprakasha não lhe satisfaziam plenamente. Ramanuja apontava muitos equívocos na exposição de seu mestre. Às vezes, ele dava sua própria interpretação, que era muito bem vinda por todos os co-estudantes. Isso fez com que o Yadavaprakasha ficasse com inveja de Ramanuja
O Yadavaprakasha então arquitetou um plano para tirar a vida de Ramanuja. Ele arranjou para que Ramanuja e seu primo Govinda Bhatta - um colega de classe – peregrinassem à Varanasi. Govinda Bhatta, sendo um aluno preferido de Yadavaprakasha, veio a saber do plano enquanto eles estavam viajando. Imediatamente ele informou a Ramanuja do perigo ajudando-o a escapar. Pela graça de Deus, Ramanuja escapou com a ajuda de um caçador e sua esposa, a quem ele acidentalmente encontrou no caminho.
No final do século X, o sistema de filosofia Visishtadvaita estava bem estabelecido no sul da Índia e os seguidores deste credo se encarregavam de importantes templos Vaishnavita em Kancheepuram, Srirangam, Tirupathi e outros locais importantes. O chefe da importante instituição Vaishnavita era Yamunacharya, um grande sábio e profundo estudioso, que era também o chefe do Mutt em Srirangam. Um de seus discípulos, de nome Kanchipurna, servia ao templo em Kancheepuram. Embora fosse um Sudra, Kanchipurna era tão piedoso e bom que o povo do lugar tinha um grande respeito e reverência para com ele. Atualmente, existe um templo em Kancheepuram onde a imagem de Kanchipurna foi instalada e onde ele é adorado como um santo.
Motivado pelo prestígio de Kanchipurna, a quem o jovem Ramanuja tanto reverenciava, que ele o convidou para jantar em sua casa. A intenção de Ramanuja era ouvir Kanchipurna e serví-lo pessoalmente no jantar e ele mesmo tomar as refeições mais tarde. Infelizmente, Kanchipurna veio para jantar quando Ramanuja não estava em casa, tendo suas refeições sido servidas pela esposa de Ramanuja. Quando Ramanuja voltou para casa, encontrou a casa de banho lavada e sua esposa de banho tomado por ter servido refeições a um Sudra. Isso irritou muito Ramanuja, que se virou contra sua esposa, que era um senhora ortodoxa e de um ideal social diferente. Após alguns incidentes desta natureza, Ramanuja abandonou a vida de chefe de família e tornou-se um Sannyasin.
Nesse tempo, Yamunacharya estava muito velho e à procura de um jovem com boa qualificação e caráter para assumir seu lugar na direção do Mutt de Srirangam. Ele já havia ouvido falar de Ramanuja através de seus discípulos e decidiu colocar Ramanuja em seu lugar. Ele mandou buscar Ramanuja. Antes mesmo da chegada de Ramanuja a Srirangam, Yamunacharya havia morrido, e Ramanuja viu seu corpo sendo levado por seus seguidores para a cremação fora da aldeia. Ramanuja acompanhou a cremação. Lá, foi lhe informado que Yamunacharya, antes de sua morte, havia deixado instruções de que três desejos fossem cumpridos por Ramanuja, por exemplo, que um Visishtadvaita Bhashya deveria ser escrito para o Brahma Sutras de Vyasa que até então tinha sido ensinado oralmente aos discípulos da filosofia Visishtadvaita e que os nomes dos Parasara, o autor de Vishnu Purana e do santo Sadagopa, deveriam ser perpetuados. Ramanuja sentiu-se profundamente tocado, e no campo de cremação, ante o corpo morto de Yamunacharya, fez uma promessa solene de que, se Deus quisesse, cumpriria todos os três desejos de Yamunacharya. Ramanuja viveu por 120 anos, e no decurso de sua longa vida, resgatou integralmente a promessa, ao cumprir todos os três desejos de Yamunacharya.
Após a morte de Yamuna, seus discípulos em Srirangam e outros lugares desejaram que Ramanuja tomasse o lugar de Yamuna, como dirigente do Mutt de Srirangam. Este também foi o desejo expressado por Yamuna. Por conseguinte, Ramanuja tomou o seu lugar, no qual foi devidamente empossado com todas as cerimônias e celebrações realizadas como dirigente do Mutt Visishtadvaita em Srirangam.
Ramanuja então seguiu para Thirukottiyur para tomar iniciação de Nambi para Japa do Mantra sagrado de oito letras Om Namo Narayanaya. De algum modo, Nambi não estava disposto a iniciar Ramanuja facilmente. Ele fez Ramanuja viajar todo o caminho de Srirangam para Madurai quase dezoito vezes antes de decidir iniciá-lo e, também, somente após promessas solenes de sigilo. Então Nambi devidamente iniciou Ramanuja e disse: "Ramanuja! Mantenha este Mantra em segredo. Este Mantra é poderoso. Aqueles que repetirem este mantra irão alcançar a salvação. Dê apenas a um discípiulo previamente testado". Mas Ramanuja tinha um coração muito grande. Ele era extremamente misericordioso e seu amor pela humanidade era ilimitado. Ele queria que todo homem desfrutasse da eterna bem-aventurança do Senhor Narayana. Ele percebeu que o Mantra era muito poderoso. Imediatamente chamou todas as pessoas, sem distinção de casta ou credo, para se reunirem diante do templo. Tendo ficado no topo da torre acima do portão principal do templo, gritou o Mantra sagrado para todos o mais alto que pode. Nambi, seu Guru, veio a saber disso. Ele ficou furioso. Ramanuja disse: "Ó meu amado Guru! Por favor, prescreva um castigo adequado para a minha ação errada!". Ramanuja disse: "Com prazer sofrerei as torturas do inferno se milhões de pessoas poderem obter a salvação por ouvirem de mim o Mantra". Nambi ficou muito satisfeito com Ramanuja e descobriu que ele tinha um coração muito grande, cheio de compaixão. Abraçou Ramanuja e o abençoou. Tendo sido dotado das qualificações necessárias, Ramanuja sucedeu Yamuna.
A essa altura, a fama de Ramanuja tinha se espalhado. Tendo se tornado um bom debatedor. Então, escreveu seu comentário sobre o Brahma Sutras conhecido como o Sri Bhashya. O sistema Visishtadvaita é antigo. Foi exposto pelo Bodhayana em seu Vritti, escrito por volta de 400 a. C. É o mesmo como exposto por Ramanuja, e Ramanuja seguiu Bodhayana em suas interpretações do Brahma-Sutras. A escola filosófica dos Vaishnavas de Ramanuja é chamada pelo nome de Sri Sampradaya. Ramanuja também escreveu três outros livros - Vedanta Sara (Essência do Vedanta), Vedanta Sangraha (um resumo do Vedanta) e Vedanta Deepa (A luz do Vedanta).
Ramanuja viajou de norte a sul e de leste a oeste para disseminar o caminho da devoção. Visitou todos os lugares sagrados da Índia, incluindo Kashi, Kashmir e Badrinath. No caminho de volta ele visitou o monte Tirupathi. Lá encontrou Saivites e Vaishnavites brigando entre si, um lado alegando que a imagem do Senhor nos morros Tirupati era um Saivita enquanto o outro dizendo que era um Vaishnavita . Ramanuja propôs que eles deveriam deixar para que o próprio Senhor decidisse a disputa. Então, eles deixaram os emblemas de ambos Shiva e Vishnu, aos pés do Senhor, e depois de trancar a porta do templo, ambas as partes ficaram de guarda. Na parte da manhã, quando abriram as portas, verificou-se que a imagem do Senhor estava vestindo os emblemas de Vishnu, enquanto os emblemas de Siva estavam deitados aos seus pés como deixado na noite anterior. Desta forma ficou decidido que era um tempo Vaishnavita e ficou assim desde então.
Ramanuja, então, visitou todos os santuários Vaishnavita no sul da Índia e finalmente chegou Srirangam. Aqui, ele acomodou-se permanentemente e continuou seu trabalho de pregação da filosofia Visishtadvaita e escrevendo livros. Milhares de pessoas reuniam-se todos os dias para ouvir suas palestras. Ele purificou os templos, estabeleceu os rituais que seriam realizados neles, e corrigiu muitos males sociais que haviam surgido na comunidade. Sua congregação possuía 700 Sannyasins, 74 personalidades que ocuparam funções especiais do ministério, e milhares de homens e mulheres santos, que o reverenciavam como Deus. Ele converteu milhares de pessoas para o caminho de Bhakti. Tendo iniciado até lavadeiros. Mesmo contando agora com a idade de setenta anos, estava destinado a viver muitos mais, estabelecer mais Mutts, construir mais templos e converter muitas milhares de pessoas.
Nesta época o rei Chola era Kulothunga I, um ferrenho Saivita. Ele ordenou que Ramanuja aderisse a sua fé em Siva e reconhecesse Siva como o Senhor Supremo.
Dois dos discípulos de Ramanuja, Kuresa e Mahapurna, vestiram o manto laranja dos Sannyasins e visitaram a corte de Kulothunga I em lugar de Ramanuja. Lá eles defenderam a superioridade de Vishnu. Recusando-se a ouví-los o monarca determinou que lhe fossem arrancados os olhos.
Os infelizes homens retornaram para Srirangam - sua terra natal. Mahapurna, por ser um homem muito velho, foi incapaz de suportar a dor, tendo morrido no caminho. Tendo Kuresa retornado sozinho.
Enquanto isso, com alguns seguidores, marchando dia e noite, Ramanuja chegou ao pé das colinas de Western Ghats, cerca de quarenta quilômetros a oeste de Mysore. Após grandes dificuldades, ali se estabeleceu e passou alguns anos em trabalho de pregação e conversão das pessoas à filosofia Visishtadvaita.
O rei do lugar era Bhatti Deva, da dinastia Hoysala. A filha do Raja estava possuída por algum demônio, e ninguém era capaz de curá-la. Ramanuja conseguiu exorcizar o demônio restabelecendo a saúde da princesa. O rei ficou muito satisfeito com Ramanuja e rapidamente tornou-se seu discípulo tendo sido convertido por Ramanuja num Vaishnavita. Posteriormente Ramanuja estabeleceu-se firmemente nos domínios do rei de Mysore, construiu um templo em Melkote, tendo criado lá uma comunidade Vaishnavita muito forte. Os Párias ou classes oprimidas (agora chamado Harijans) do lugar eram de grande valia para Ramanuja, e Ramanuja deu a eles o direito de entrada no interior do templo construído em Melkote - em alguns dias fixos e com alguns privilégios limitados - que eles desfrutam até hoje.
Ramanuja construiu mais alguns templos em Mysore e nos arredores, criando uma forte comunidade Vaishnavita, colocando a cargo de seus discípulos a continuidade de seu trabalho de divulgação da filosofia Visishtadvaita e adoração a Vishnu em todos os domínios do rei. Assim continuou seu trabalho por quase 20 anos e seus seguidores enumeram-se aos milhares.
Enquanto isso, Kulothunga Chola 1, que perseguiu Ramanuja, morreu. Os seguidores de Ramanuja imediatamente comunicaram a notícia Ramanuja, pedindo-lhe que voltasse para Srirangam. Era desejo do próprio Ramanuja voltar para seus seguidores em Srirangam e culto no templo. Mas seus novos discípulos e seguidores em Melkote e outros lugares de Mysore não iriam deixá-lo ir. Então foi construido um templo para si próprio, no qual foi instalando sua própria imagem para adoração de seus discípulos e seguidores, e deixou o lugar para retornar a Srirangam. Lá ele foi recebido por seus amigos e discípulos de Srirangam. Por ser um pró-Vaishnavita, o sucessor Kulothunga Chola I deixou Ramanuja em paz. Ramanuja continuou seus trabalhos por mais 30 anos e encerrou sua longa carreira ativa depois de atingir a idade de 120 notáveis anos.
Ramanuja foi o expoente da filosofia Visishtadvaita ou não dualístia. Brahman de Ramanuja é Sa-visesha Brahman, isto é, Brahman com atributos. De acordo com os ensinamentos de Ramanuja, o Senhor Narayana ou Bhagavan é o Ser Supremo, a alma individual é Chit, a matéria é Achit. Ramanuja respeita os atributos como reais e permanentes, mas sujeito ao controle de Brahman. Os atributos são chamados Prakaras ou modos. Senhor Narayana é o Governante e Senhor do universo. O Jiva é Seu servo e adorador. O Jiva deve entregar-se totalmente ao Senhor. A unicidade de Deus é completamente consistente com a existência de atributos, como os atributos ou Shaktis dependem de Deus para sua existência.
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