quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Objetivo da Vida


Swami Sivananda
A vida do homem é uma indicação do que está além dele e do que determina o curso dos seus pensamentos, sentimentos e ações. A vida maior é invisível, e a visível é uma sombra lançada sobre a invisível que é a real. A sombra dá uma ideia da substância, e não podemos prosseguir o caminho da verdadeira substância pela percepção da sombra. A existência humana, em razão de suas limitações, desejos e várias formas de descontentamento, inquietação e tristeza, aponta para alcançar algo superior ao final, embora seja incompreensível a natureza deste final.

Como a vida nesta terra é caracterizada por incessante mudança e nada aqui parece ter o caráter de realidade, nada aqui pode contentar o homem completamente. O Bhagavad Gita se refere a este mundo como anityam, asukham, duhkhalayam, ashashvatam. Impermanente, infeliz, morada da tristeza, transiente. Os sábios de antigamente que se realizaram declaram isso. A Verdade é a Unidade. E que a meta da vida humana é a realização e a experiência desta Verdade.

O universo é inconstante, e é somente um campo de experiência dado aos indivíduos para que eles possam evoluir em direção a Mais Alta Verdade. É a glória do povo de Bharatavarsha (Índia) que para eles o universo visível não é real e apenas o Eterno invisível é real. Eles não acreditam naquilo que percebem com os sentidos. Eles têm fé apenas naquilo que é o fundamento de toda experiência, além dos sentidos, além mesmo da mente individual.

Devotos sinceros costumavam buscar abrigo nos grandes sábios que se purificavam na sagrada região dos Himalaias com sua poderosa presença, e vivenciaram a vida austera dos Yogis para alcançar a liberdade dos embaraços do vínculo da vida ligada à terra e descansarem na beatitude do Absoluto, Brahman. Isto eles consideravam a verdadeira vida, e assim, a forma de cumprir a lei do Eterno.

O grande legislador Manu, depois de descrever os vários princípios de Dharma, finalmente, afirma: De todos estes Dharmas, o Conhecimento do Self é o mais alto, ele está na verdade em primeiro lugar de todas as ciências; pois, através dele, se alcança a imortalidade. A busca de Dharma, Artha e Kama tem o seu significado na obtenção de Moksha que é o maior de todos os Purusharthas (finalidade da vida humana). Dharma é o valor ético e moral da vida; Artha é o seu valor material, e Kama é o seu valor vital, mas Moksha é o valor infinito de existência, que abrange todos os outros e é por si só muito maior do que todos. Existem outros como auxiliares ou preparatórios para Moksha. Sem Moksha, eles não têm valor e não transmitem nenhum significado. O seu valor está condicionado a lei do infinito, que é o mesmo que Moksha.

Os Vedas e as Upanishads são expirações do Ser Divino, e eles dão um profundo comentário sobre a vida espiritual. São exposições do significado e do propósito da vida humana e o método para transmutação da aparência mortal para a Essência Imortal. O caso do grande Nachiketas e a estória de suas aventuras em busca da Verdade narradas no eletrizante Kathopanishad serve de exemplo para todos os homens capazes de pensar e refletir.

Nada no mundo sensorial pode ser de valor verdadeiro. Isto é o que Nachiketas ensinou através de seu memorável ato de renúncia. Nem mesmo uma vida mais longa e imensa riqueza que lhe foram oferecidas puderam tentá-los. Ele perseverou em sua busca pelo Mais Alto, e ao final alcançou o Mais Alto. Nada menos que isso poderia satisfazê-lo. Assim são os verdadeiros heróis. Um verdadeiro herói não é quem é atacado por balas ou arrisca a vida em situações perigosas, luta em batalhas, mergulha em oceanos ou escala altos montes, mas quem subjuga seus sentidos e conquista sua mente, reconhece a suprema unidade da vida e deixa de lado dualidades e desejos. Alcançar isso é dever do homem; esta é a mensagem imortal dos sábios das Upanishads.

O emaranhado da experiência sensorial em que o homem está preso é quase irritante, e é difícil livrar-se dele. O homem é iludido pela noção da realidade nas relações chamadas externas das coisas e, assim, lhe advém a tristeza. O Mahabharata diz que o contato dos seres neste universo é como o contato de toras de madeira num rio que flui, temporário. No entanto, o apego a percepção dos sentidos é tão forte que os fantasmas são confundidos com os fatos, o impuro é confundido com o puro, o doloroso com o agradável, e o Self com o não-self.

A mensagem dos antigos sábios é que a vida que se vive no mundo dos sentidos é enganosa, pois esconde a Existência subjacente a todas as coisas e nos faz sentir que apenas a apresentação especial de formas perante os sentidos por si só é real. Crianças correm atrás dos prazeres externos e caem na grande rede da morte. Os heróis, no entanto, conhecendo o Imortal, não procuram o Eterno entre as coisas instáveis aqui., diz o Upanishad. O chamado dos antigos sábios ao homem é a seguinte: Oh filho do imortal! Conheça a si mesmo como o Infinito! Torne-se o Todo. Esta é a bênção suprema. Esta é a suprema felicidade. Esta é a mensagem imortal para o homem.

Os sábios vez e outra têm sublinhado: Se alguém O conhece (ou seja, o Ser Imortal) aqui, então eis aqui o verdadeiro fim de todas as aspirações! Se alguém não O conhece aqui, grande é a perda para ele . (Kenopanishad). E o sábio Yajnavalkya diz que de todas as grandes obras realizadas neste mundo, sem o conhecimento do Ser Único Imperecível, nada mais tem valor. Serviços humanitários; jejuns e caridade; vida política, nacional, social e individual; todas devem estar baseadas no sentimento de fraternidade universal que é a eterna expressão da Realidade da Individualidade universal.

A humanidade poderá ter esperança por paz quando esta condição, descoberta e afirmada pelos Rishis, a saber, quando respeitada a lei do Divino. A paz só poderá ser alcançada quando o sistema do Divino for respeitado e incorporado à vida. E esta paz é inversamente proporcional ao amor ao corpo, a individualidade e suas relações no mundo, no qual a humanidade encontra-se normalmente mergulhada. O despertar para uma consciência mais alta se faz necessário para que a desordem e o descontentamento possam ser abolidos.

A educação da humanidade na direção certa é a condição para a paz mundial. O materialismo, o ateísmo, ceticismo e agnosticismo galopantes nestes dias os quais têm roubado o homem da sua reverência para com o Supremo Absoluto são os principais responsáveis pelo egoísmo crescente, desejo, confusão, violência e agitação da mente que estão fervilhando no mundo. O homem deve saber que por trás da aparência de materialidade, singularidade, externalidade, a dúvida e a impermanência, está a realidade da espiritualidade, unidade e o infinito.

Sem o reconhecimento dessa realidade, a vida perde seu sentido e torna-se um vazio, desprovida de significado e propósito, morta, por assim dizer. Viver no divino é morrer para a estreiteza do mundo dos sentidos; e limitar-se a este último é destruir a si mesmo. (nas palavras do Isavasyopanishad). A tendência atual da vida precisa ser revista, e uma reorientação trazida à luz da moralidade, ética e espiritualidade. A mudança necessária não é apenas na forma externa, mas na própria perspectiva e na constituição interna do sistema de vida.

Isto pode ser feito quando os ideais do homem estiverem baseados nas verdades da espiritualidade da Unidade, elevados acima das crenças cegas, diferenças e materialidade. Quando isto for conseguido, o homem terá cumprido o seu grande dever aqui. Para o homem queimado pelo sol do deserto sem água do mundanismo, a única esperança está nas águas frias do Ganga da sabedoria, que flui das alturas do Himalaia dos sábios das Upanishads. Beba desta fonte perene, e refresque-se.

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