14. Yoga
A razão por trás da exigência de se atingir uma
harmonia na prática do yoga é que o mundo é uma harmonia, o universo é uma
harmonia, Deus é harmonia, o Absoluto é harmonia, e estar em sintonia com isso
em todos os aspectos é Yoga.
Enquanto por alguns anos durante a vida do indivíduo
possa ser levada na disciplina yógica, o indivíduo lentamente perceberá que não
possui outro propósito neste mundo. Todas as nossas bem-intencionadas ocupações
na vida são pequenos gritos de anseios do desejo central do espírito por liberdade
sem limites.
O estudante de Yoga é capaz de receber todos os
golpes do mundo, porque estes não são vistos como reações vindas contra a
personalidade dele. Quando você modifica a si mesmo interiormente, o mundo irá
corresponder à própria mudança no que diz respeito a você.
Yoga nos ensina como alcançar a eterna felicidade
nos colocando em equilíbrio permanentemente, enquanto os objetos externos nos
dão apenas um prazer temporário. Yoga é um esforço independente desconectado
dos objetos transitórios. Yoga traz felicidade mesmo sem pessoas ou coisas ao
seu redor, mesmo quando você está sozinho.
Você não aprenderá uma lição melhor do que através
da experiência da natureza transitória das coisas. Quando você perde todos seus
pertences, quando sua vida está em jogo, você aprende uma lição melhor do que
aprenderia em universidades. A natureza transitória das coisas aponta para a existência
de um valor eterno na vida.
As tentações estão uniformemente presentes no
caminho da Yoga, mas as formas como elas surgem varia de indivíduo para
indivíduo, então o enfrento não será o mesmo que você tem que enfrentar. Você
não sabe o que ocorrerá com você amanhã.
A personalidade do homem individual é profunda,
muito mais profunda do que aparenta na superfície. Afastar a si mesmo do
contato físico com os objetos dos sentidos não significa renúncia, totalmente.
Se você abstém do contato físico com objetos vivendo num lugar isolado, o desejo
por eles ainda continuará.
Os desejos do ser humano estão profundamente
enraizados abaixo do nível consciente. Então, mesmo que você conscientemente
esteja livre dos desejos, você não está livre deles inconscientemente. As
sementes subconscientes de um anseio por gratificação sensorial criam reações
em contrapartida do cosmos exterior e surgem como tentações.
Quando você trilha o caminho do Yoga, a primeira
coisa que você encara ou encontra é uma tentação da qual você não é capaz de
resistir. Ninguém pode resistir à tentações, porque tentações não surgem como
tentações. O diabo não surge na forma de um diabo; caso contrário você o
reconheceria. A ilusão pode ser confundida com realização. Esta é a razão
porque, podemos assim dizer, um guru é necessário.
Do externo, você vai para o interior, e então para o
Universal. Você torna-se cosmicamente ciente das coisas. Não pense que
quando um Yogi aspira apenas por Liberação, ele seja um indigente no mundo. Não
é. Ele é rico tanto material quanto fisicamente. Ele está vivo para todo
significado da vida. Muitas pessoas tornam- se "ninguém" quando elas
se aposentam de seus ofícios. Ninguém as deseja depois, porque não criaram
substância própria. Por outro lado, a prática espiritual, ou Sadhana, dá a pessoa
um valor intrínseco. Sadhana faz com que a pessoa sinta algo mesmo que ninguém olhe
para seu rosto. A felicidade do indivíduo, então, não conhece fronteiras, mesmo
que e mundo não o deseje mais. Você não depende disso.
Sutil é o caminho do Yoga, difícil é este caminho, e
difícil é entrar na cidadela deste misterioso objetivo. Ele é invisível, e por
isso duro em cada sentido do termo. Se você puder ver o caminho, você poderá
caminhar nele, mas você não é capaz de ver o caminho do Yoga. Você não pode ver
a trilha dos pássaros no céu, embora eles possuam a sua própria trilha. Então é
com o caminho do conhecimento. Ele não pode ser visto, embora esteja lá. É
difícil conhecer para onde o indivíduo está sendo levado, pois não existe
caminho para ele.
Qualquer distúrbio de qualquer tipo em qualquer
parte da personalidade do indivíduo será uma desqualificação para este caminho.
Qualquer tipo de agitação é para ser evitado. Uma mente, que não esteja bem serena,
não poderá auxiliá-lo a tocar mesmo a parte mais inferior do pedestal desta
prática.
Toda nossa vida é preconcebida de ideias. A assunção
de nossa personalidade pode ser tida como o principal obstáculo para o Yoga. As
benções do céu nos chegam quando nossos intelectos estão corretamente
direcionados. O intelecto purificado ou a racionalidade em nós é a faculdade
primitiva, que determina a extensão de nosso progresso nesse esforço, chamado
prática do Yoga. Temos que observar que o que chamamos o caminho dourado de conduta,
o qual é belamente descrito no sexto capítulo do Bhagavad Gita. Moderação em nossa conduta, equilíbrio no nosso
comportamento, harmonia em nossa conduta são precondições para o Yoga. Devemos
ser moderados no nosso comportamento. Não devemos ser excessivos com os outros
ou com nós mesmos. Quando falarmos, não devemos falar demais. Isto é uma
fraqueza. Fale apenas o que for necessário. Não deixe sua mente ficar agitada
quando você se expressar em atos e palavras.
O mundo é o campo de treino do Yoga. Os objetos têm
que se tornarem auxílios em sua prática ou invés de oposições ao seu esforço. A
atividade dos sentidos, os pensamentos da mente e as necessidades do Espírito
devem estar em conformidade um com o outro. Esta é precisamente a prática
envolvida no Yoga. Yoga não é nada além de conformidade do Espírito, a mente e
os sentidos unidos. Yoga é um movimento de efeito em direção à causa, a inclinação
do particular no universal, em maior e maior nível. A ação deve estar baseada
na compreensão - então a vida torna-se Yoga. Yoga nos muda completamente e nos
transforma em ouro, como se tivéssemos sido extraídos do ferro que éramos. Nos
tornamos diferentes na própria substância. Existe uma transfiguração da
personalidade. Crescemos em todo sentido do termo. Nada pode ser mais caro para
o homem do que o Yoga, se o indivíduo for capaz de saber o que realmente
significa. Yoga não é meramente um assunto que o indivíduo escolhe para seus
estudos. É um sistema que acomodamos em nosso próprio dia a dia pessoal e
prático como se fosse uma arte, pelo qual podemos nos situar em uma maior
proximidade para aquele grande ideal de toda a vida. Yoga não é um contato
físico com algo. É a união do ser com o Ser.
A mente não se submeterá a qualquer ameaça ou
conselho, se ela não for capaz de apreciar ou compreender o significado por
trás do ensinamento de que vale a pena restringir a si mesma. Nossa insistência
de que o mundo ou o universo está no nosso exterior é chamado mente. Estamos
perpetuamente cometendo erros após erros em nossas vidas, e todos esses erros
são consequências de nossa autoafirmação original que é chamada mente. A
mente é para ser controlada, porque ela é a essência causadora do mal, e a causa
raiz de todos os problemas da vida.
Mesmo aqueles que não sabem o que seja Yoga, e não a
praticam, e não possuem nenhuma ideia sobre em essência, se aproveitam deste
grande movimento chamado Yoga, que é, afinal, o objetivo de todos. Fundar
o seu próprio self em sua própria natureza, o caráter universal, é o objetivo
do yoga. A falsa impressão de que somos diferentes dos outros e que as coisas
são constituídas de particularidades isoladas desaparece, e estabelecemos em
nossa natureza essencial. A prática do Yoga, certamente, não é um assunto
individual. O maior serviço que o
indivíduo pode fazer para a humanidade e para o mundo é entrar em Yoga. Nós não
podemos nos isolar do bem estar social ou do bom do mundo da meditação do Yoga.
Elas são unas e a mesma coisa.
Yoga é mais um estado de ser do que fazer algo
exterior. Qualquer quantidade de obra externa pode não ser Yoga em tudo, porque
o indivíduo será a mesma pessoa internamente com nenhuma diferença, se o panorama
da vida da pessoa não muda. Yoga não é uma religião de forma alguma. Yoga é uma
abordagem sistemática e científica para as coisas assim como elas são. Não tem
nada a ver com o Hinduísmo ou Cristianismo ou qualquer outro "ismo".
Yoga é como matemática ou lógica, quem não é Hindu, Muçulmano, ou Cristão. Yoga
demanda um espírito dedicado por parte daquele que busca. Ele pede por uma
completa rendição da personalidade do indivíduo para o grande propósito a ser
alcançado através do Yoga. Yoga engloba toda nossa vida e não uma parte dela,
porque a menos que tenhamos uma atitude em direção a alguma coisa, é uma
completa atitude e não uma atitude meramente parcial. Yoga é para ser praticado
com tremendo zelo e sentimento de intenso amor, transcendendo todos outros
amores temporais neste mundo, um amor que engloba completamente outro amor. Não
é para ser um dos amores entre muitos. Não. É para ser o único amor que o
buscador pode ter.
Serviço altruísta é tido como pré-requisito
essencial no processo purificatório para a prática final do Yoga. Uma
disposição para a caridade na direção do próximo é a essência do serviço.
Caridade de sentimento é a maior das caridades. Moderação é uma virtude maior
do que completa abstenção. Completa abstenção pode não ser tão difícil quanto
moderação. Cada dia temos que nos servir do Yoga assim como nos servir de nossa
refeição matinal ou almoço ou ceia. Temos que amar isso como amamos nosso
próprio pai e mãe. Não existe nada mais caro para nós do que nosso Yoga. Ele
é uma vida, vital, existência substancial, e pensar nele como um pensamento
abstrato é também dúvida na mente que deve ser removida. O tanto quanto
possível, o indivíduo não deve fisicamente se colocar numa atmosfera seja de
tentação ou ódio violento, porque eles empurrarão a mente do indivíduo, seja
positivamente na forma de amor, ou negativamente na forma de ódio.
Toda a personalidade do indivíduo normalmente foge
de Deus em nossa percepção das coisas e especialmente em nossos desejos. Este
hábito de externalização da mente é restringido pelos métodos do Yoga. A maior
pureza da mente se reflete na sua capacidade de acolher o pensamento da meta do
Yoga. Qualquer contemplação mental de um objeto ou situação, que é suscetível
de atrair a energia da mente na direção outra além daquela do Yoga, pode ser
tida como um pensamento impuro. Continuamos nossas vidas diárias como uma
questão de rotina, impulsionados impotentes pela força do hábito, mas para ser
submetido a um hábito seria para ser um escravo desse hábito. Yoga é ter domínio sobre os pranas, os sentidos e a
mente, e o ganho de liberdade da sujeição escravizante servil de nós mesmos.
Cada estudante de Yoga deveria ser um grande psicólogo de sua própria mente.
Quanto ela é violenta, o que deve ser feito? Ele deve entender todas as
técnicas da mente e deve saber como lidar com a mente em diferentes situações.
Yoga é a abertura do broto da flor de nosso próprio
coração diante do sol escaldante do Ser de Deus, e aqui a sinceridade de nosso
coração será nosso guia. Yoga não é
meramente ação no sentido de senso comum do termo, mas ação procedente do ser
de uma pessoa, e ação cada vez mais abrangente e completa como a dimensão do
ser expande em si mesmo gradualmente no processo da prática do Yoga. Yoga como
harmonia tem que ser posta em prática em sua relevância em cada nível da vida,
mesmo em nossa cozinha e banheiro, nossos relacionamentos sociais e nossas
vocações pessoais. Os grandes mestres do Yoga são pessoas normais. Eles não são indivíduos estranhos parecidos
com ascetas de outro mundo. Normalidade de comportamento é uma consequência
espontânea que segue a partir de uma compreensão da totalidade da vida, que é
basicamente Yoga.
Você deve ser muito sincero e honesto em seus
esforços na direção do Yoga, e ele tomará conta de você. Ele não o abandona. Há
milhões de organizações de bem-estar social no mundo, mas o que eles fazem com suas
mãos e pés não é tão importante quanto o que eles estão pensando em suas mentes
no momento que estão trabalhando. Num sentido podemos dizer que um Yogi é o
maior trabalhador do bem-estar social. Ninguém pode fazer tanto bem ao mundo
como um Yogi envolvido na meditação pode fazer. Harmonia é chamado Yoga; equilíbrio é Yoga –
equilíbrio entre a vida interior e exterior. Você não deve nem ser um
introvertido nem um extrovertido, mas uma pessoa equilibrada. Todas as
instruções e advertências no Yoga são para mantê-lo focado que você tem que
levar uma vida espiritual no sentido verdadeiro do termo, e não como um fator
isolado de sua vida. O espírito com o qual você vive neste mundo, atua, fala e
trabalha, é sua espiritualidade. O indivíduo tem que aprender a cooperar com o
mundo em cada um de seus estágios de manifestação – socialmente, fisicamente,
psicologicamente, racionalmente, politicamente e espiritualmente – porque Yoga
é a união total de si mesmo com a totalidade das coisas.
A tendência para o auto isolamento de todo o
exterior é o oposto do Yoga, ainda que renúncia de qualquer tipo seja
impossível sem Yoga. Renunciação não significa dissociação física com objetos,
mas uma restrição da consciência da externalidade das coisas. Não existe nada
sem importância e nada que possa ser negligenciado neste mundo do ponto de vista
do Yoga. Tudo que é visível aos nossos olhos, tudo que estamos conectados, e
tudo que possamos pensar em nossa mente, é de grande valor de uma forma ou de
outra.
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