10. A
Natureza de Deus
Todo mundo é
um filósofo no sentido de que todo mundo reconhece a indistinta presença e sinal
de “um algo”. Que algo é sentido como uma presença por uma faculdade que não
são os olhos nem os ouvidos ou nenhum outro órgão do sentido, mas um princípio
superior presente em todo mundo. Esse algo superior é a faculdade que temos de poder
reconhecer o que está além dos sentidos.
A Existência,
que é a Consciência, possui o caráter da Bem-Aventurança. Por que é a Bem-Aventurança?
Porque todo sofrimento e finitude, cada dificuldade e penúria de qualquer tipo
é o resultado da finitude da natureza do indivíduo. Quando o indivíduo se torna
o infinito, todos os desejos são satisfeitos. Os desejos não são extintos ou
destruídos no infinito, como as pessoas imaginam. Todos os desejos são plenamente
satisfeitos em sua realidade.
Se consciência
é ilimitada, fora dela nada pode existir, e isto implica que externalidade é
anômala. Nenhum objeto pode existir fora da consciência. Então, o que é chamado
um objeto surge para ser uma fase da consciência. O Self, então, colide com o
Self; o Atman entra em contato com o Atman.
O processo
de conhecimento levou a grande descoberta que existe um Ser Único no Universo.
Da filosofia o indivíduo volta-se para a religião, e o ser humano manifesta sua
aspiração no impulso básico de buscar comunhão que aquilo que está em toda
parte.
A deidade, na
medida que qualquer pessoa se interessa, é a possibilidade mais alta que a
mente ou a inteligência capta da totalidade do ideal religioso. Então, fora
disso nada pode existir. A deidade não é uma pessoa. É uma força; é um forte
desejo; é um impulso; uma necessidade; uma aspiração. É impossível definir, e esse
Algo impossível atua em todo mundo. É impossível conceber porque ela não está
confinada em nenhum corpo de um indivíduo em especial ou na individualidade.
A
universalidade de Deus é a causa que existe por trás da necessidade de se implementar
uma lei de harmonia entre as individualidades no mundo. A lei existe porque
Deus existe, e a lei é o meio no qual o ser indivisível de Deus manifesta-se
através do tempo e espaço. Ele é o fator que consolida a vida, congregando as
formas separadas num todo.
Deus é
transcendente, porque Ele está além do tempo e espaço. Mas Ele é também
imanente, porque o chamado de Deus, a presença do Absoluto, é reverberada
através do meio tempo e espaço. Deus não está apenas fora do homem; Ele está
também em seu interior.
O fato de que
o indivíduo está consciente de alguém ou algo que está à frente de si mesmo,
prova que Deus existe. Isto é porque a consciência da presença de um objeto ou
um sujeito se torna possível pelo funcionamento de um princípio que opera além
das limitações de sujeito e objeto.
Quando Deus é,
o homem deixa de ser. Deus é o Sujeito Supremo que contempla a Si próprio como
o Todo. Não existe verdadeiro movimento em direção a Deus, porque existência e
Deus são coisas idênticas. Como você pode se mover em direção à existência,
quando você está incluso nela? Contanto que conhecimento do Purusha (o Ser
Supremo) não significa movimento físico ou espacial em direção a ele, isto tem
que ser tido como uma iluminação ao invés de uma conquista. Conhecimento de
Deus não é um evento futuro, mas um fato eterno do ser.
A força
exercida pela atração gravitacional do Universo é muito maior do que qualquer
força que o indivíduo pelo imaginar nesse mundo. Nem todas as forças colocadas
juntas no mundo são capazes de se igualar àquela Força. É a Força que atrai o
Universo em direção a si mesmo. O trabalho da Eternidade é impensável e
inconcebível porque, de acordo com a gente, todo trabalho é movimento temporal;
mas existe um tipo de ação que é Eternidade tornando-se Autoconsciente.
Como o
indivíduo pode atingir o Universal exceto aceitando que ele simplesmente é? Foi
Santo Agostinho que disse que isto poderia somente ser chamada por “Aquele Que
É.”
No grandioso
estágio de contemplação, o Universo não é mais um campo onde o indivíduo vive
como parte de um contexto. Ele torna-se uma parte da natureza do indivíduo, uma
parte de sua própria pele. Neste estado exaltado, quando o indivíduo pensa,
tudo começa a pensar, quando ele respira, tudo começa a respirar.
A medida que
avançamos no caminho da devoção, o conceito de Deus cresce em si mesmo para envolver
um Ser que é como uma grandiosa criatura permeando todo o universo como o
criador, preservador e destruidor.
É a
infinitude de Purusha que toda a
gente está pedindo, não os objetos de mundo. Mas, devido à infinitude ser
imperceptível e o mundo sozinho ser percebível, as pessoas correm para aquilo
que seja visível aos sentidos.
É o poder de
Deus ou shakti que se manifesta em si
mesmo como um desejo. Quem é capaz de suportar isso? A única saída para o
buscador espiritual é render-se a si mesmo a Ele, e dizer, “O Deus, ajude-se,
sou impotente,” e Ele tomará conta do buscador.
Se Deus está
em todo lugar, Ele está também em tudo. Portanto, podemos fazer uso de qualquer
coisa como um símbolo de Sua onipresença. Aquilo que é tudo está em toda coisa
individual. Se ele está em toda coisa
individual, qualquer coisa é boa o bastante para nossa concentração.
Amamos a
Deus com um propósito, que está conectado com este mundo; valores sociais,
psicológicos e valores corporais tornam-se os fatores condicionantes de até mesmo
o conceito de Realização em Deus. Parece que amamos a Deus para o bem das
pessoas, para o bem do mundo da natureza, por causa de nossas satisfações
egoístas. Justificamos nossa própria forma de pensar em nome da filosofia, e
tentamos trazer o próprio Deus para este mundo de nossas relações pessoais
egoístas e compeli-Lo a atender às nossas necessidades que são psicológicas,
empíricas e racionais.
Deve existir
uma harmonia entre nossa forma de pensar hoje e a natureza essencial de nossas
relações internas com Deus, mundo e espírito, como ela é essencialmente.
O ilimitado
tem que ser implantado no individual. Deus tem que descer ao coração do homem.
O verdadeiro Deus está em nosso interior. Nosso nível mais elevado deseja que
nos elevemos, despertemos e sejamos absorvidos Nele.
Nossa busca
por Deus deve ser uma função de nosso espírito interior, ao invés de uma
atividade do intelecto ou uma compreensão empírica. O que somos obrigados a
fazer é apenas aceitar sua Presença, pedir a Deus, buscá-Lo no recesso de nosso
ser, e ir ao Seu encontro. A Realidade Cósmica além dos elementos pode ser
somente um objeto de experiência direta e realização, e nunca se tornar um
objeto espaço-temporal.
O movimento
do espírito em direção a Deus não é cobrir uma distância como se fosse uma estrada;
é o contrário, uma ascensão dos níveis inferiores de ideia e ser aos níveis
mais elevados.
Você e eu e
tudo imaginável colocados juntos não fazem Deus, porque essas coisas visíveis
são todas sombras e irrealidades no final, e uma multitude de irrealidades não
irá constituir uma realidade.
O que
acontece a todos os indivíduos quando eles atingem o Ser derradeiro? Isto pode ser
comparado às abelhas fazendo mel. O mel traz as essências de várias flores,
centenas e centenas delas que foram coletadas. O mel é um amálgama de todas
essas essências, mas na porção do mel não se pode distinguir a essência de uma flor
de outra. Isto é o que ocorre com todas as pessoas quando elas se fundem no puro
Ser.
Podemos
dizer num sentido, o oceano é o self dos rios na direção do qual eles correm e desaguam
e são absorvidos, o que eles se tornam no final. Assim é o mesmo que ocorre com
todos os indivíduos que tendem na direção do oceano do derradeiro Ser.
Embora não
possamos ver uma coisa, ela pode existir. Porque o sal está dissolvido na água,
não pode ser visto pelos olhos. Mas através de outros meios – o órgão do
paladar – podemos descobrir se ele está lá. Similar é o caso com o Ser que está
na substância de toda esta criação. Da mesma forma como não podemos ver o sal
na água, não podemos ver este Ser em particular. Mas, empregando outros meios
podemos descobrir que este Ser está em cada detalhe.
Onde o indivíduo
nada vê exceto o próprio Self, onde o indivíduo nada ouve além do próprio Self,
onde o indivíduo nada compreende além do próprio Self, isto é o Absoluto.
Como uma
pessoa inteligente, você deve avaliar ainda hoje que ninguém realmente o deseja
neste mundo. Ninguém é seu amigo aqui. Quando tudo se vai, Deus surge; quando existe
algo lá, Ele está um pouco distante.
Consciência é
consciência de si mesmo, e em ser consciente de si mesmo, isto é estar ciente
de todas as coisas, e estar ciente de todas as coisas é estar consciente de si mesmo.
(Tat tvam asi.)
(Tradução livre do site sivanandaonline.org)
Nenhum comentário:
Postar um comentário