12. O Que
É Verdadeiramente Religião
A completa reação
do homem inteiro ao todo do universo é religião. Poderíamos também seguir a partir
desta reflexão que religião inclui o todo da vida, e não meramente um segmento
da vida; A religião geralmente não está associada com o todo da vida do
indivíduo; ela é mantida nos bolsos e tirada somente quando o indivíduo entra num
templo, vai à igreja, ou senta-se perante um homem santo. Religião é um sacrifício.
É a dedicação do self. A religião não se esgota com a oferenda de algum objeto
ao Deus conceitual. Religião é algo que consiste puramente de experiência, e,
portanto, não pode ser explicada em termos empíricos. A religião é a mais
elevada experiência possível do homem, a compreensão das profundezas do espírito
do próprio indivíduo, em cujo ato o indivíduo entra em contato com a verdadeira
essência do cosmos. O progresso da consciência religiosa de um nível a outro é
uma ascensão das totalidades. Sempre que o indivíduo sente como contemplando um
objetivo religioso nas meditações ou numa prece, o indivíduo deve primeiro de
tudo assegurar a si próprio que o todo o self está lá pronto para se encontrar
com a completa realidade.
Quando o
indivíduo entra na consciência religiosa, em qualquer nível que seja, ele é
totalmente conduzido. O espírito fica num estado de arrebatamento. O indivíduo permanece
então num grande mar de deleite, porque o todo que está acima tenta puxá-lo
para fora dos níveis inferiores nos quais o indivíduo encontra-se envolvido.
Isto é como se o âmago da individualidade do indivíduo estivesse sendo extraído
de sua concha. Quando a religião se apodera do homem, ela o retira totalmente
de seus enredamentos parciais das guloseimas do mundo da mente e dos sentidos.
Ele é arrastado para fora da lama, quando a consciência religiosa o inunda.
Todos os
aspectos da vida, que são as preocupações do homem, devem ser tidas como as
necessidades a serem transformadas em esforço religioso. Qualquer que seja a
ocupação do homem na vida, esta tem que se tornar sua religião – aquela tem que
se tornar um caminho para Deus. Religião é o todo da vida. Ela é uma sintonização
interna de si próprio com a regra cósmica. O interior, constituído de diferentes
níveis da personalidade, deve ser levado em consideração em todos os seus
níveis quando o indivíduo vive uma vida religiosa. Caridade não significa somente
repartir alguns dólares ou libras. Caridade é uma atitude da mente. Ela pode
ser expressa na forma de ação física ou não. Ela inclui sentimentos caridosos,
uma atitude caridosa, conduta e comportamento em direção aos outros.
Realizamos
caridade não porque somos ricos e os outros são pobres. Ao contrário, os outros
são igualmente importantes e ele devem ter tanto direito de existir quanto nós
mesmos. A habilidade de ver Deus em todas as coisas é mais importante, e uma
mente assim purificada torna-se apta a adorar Deus. Uma mente impura não pode
adorar Deus. Portanto, Karma Yoga, ou serviço desinteressado, torna-se
necessário à purificação da mente e a torna apta para a adoração a Deus.
Qual é o
mais profundo significado de ahimsa
(não ferir)? O indivíduo deve ser amigo
de todos. Quando alguém que é amigo de todos tem a intenção no bem-estar de
todos os seres, ele não machuca ninguém. Existe sacralidade e santidade
presente em todo lugar, e reverência pela vida é o emblema da verdadeira
cultura. Veracidade é muito simples e muito fácil de compreender, porque a
mentira não é nada além do que exploração. O indivíduo não deveria mentir, a
menos que tenha interesse em explorar alguém. Brahmacharya é um ajustamento gradual das forças da personalidade
do indivíduo em direção as mais amplas dimensões da personalidade, porque o
Absoluto é a Suprema Impersonalidade. Brahmacharya
significa privar-se de outros interesses além do interesse na Yoga. Um
objeto de distração pode ser qualquer coisa. Se possuímos um forte interesse
por algo que distraia nossa atenção, a energia se vai. Qualquer tido de
escoamento de energia em qualquer direção causada por evento ou contexto é ruptura
de brahmacharya.
Se existe alguém
que possui um mínimo de honesta devoção direcionada a realização de Deus, e à
prática de Yoga em sua essencialidade, certamente ele está trilhando o caminho
da verdade, e, portanto, está compelido a ter sucesso nessa medida. Svadhyaya (estudo) não é ir à biblioteca
e ler algo que esteja lá. É o estudo sagrado, o estudo do próprio self do
indivíduo, ou melhor o estudo de algo que esteja conectado com a natureza do
próprio self do indivíduo. Oração faz milagres e maravilhas; uma atitude de
humildade de nossa parte será de grande valia para nós. Através de orações
sinceras que oferecemos a Deus, invocamos Suas bênçãos, e as ações de Deus são
instantâneas. Ele fará a sadhana (prática
espiritual) para nós. O espírito em nosso interior, que busca superar a si
mesmo numa comunhão ampla, é o espírito da religião.
O indivíduo
torna-se uma pessoa verdadeiramente religiosa quando começa a ver o mesmo Deus
em todas as formas, não meramente em uma única forma. Temos piedade no interior
de nosso quarto, e uma religião completamente diferente quando caminhamos na
estrada ou comprarmos um pacote de biscoitos numa loja, ou viajamos no ônibus
ou trem. Se nosso confronto com a vida nesses vários aspectos que estamos
involuntariamente e necessariamente envolvidos pode estar carregado com o
espírito de religião, nós podemos ser tidos como verdadeiros religiosos, e Deus
nos ajudará em toda parte. Religião não se torna religião e o espiritual não se
torna espiritualidade a menos que nossa perspectiva em respeito ao todo da vida
esteja em sintonia com as demandas da natureza de Deus e o relacionamento
interno que subsiste entre Deus, mundo e espírito. Uma agitação emocional de
entusiasmo de amor a Deus, devido ao estudo das escrituras ou textos místicos,
ou ao escutar o sermão do mestre, não pode servir de apoio confiável para o que
virá. Deve existir uma convicção que venha do fundo no coração.
“Eu não
tenho obrigação.” Isto poderia ser um argumento falacioso, porque aqui estamos
tentando introduzir um nível metafísico numa atmosfera social, que não deveria
ser feita enquanto o indivíduo estivesse obviamente consciente do fato de que a
atmosfera social é uma realidade. Qualquer coisa que você reconheça como
realidade não pode ser ignorada quando algum argumento é desenvolvido. Não
podemos esperar facilidades da sociedade e então sentir que não temos
obrigações em troca. Existe uma obrigação para todo mundo em respeito ao
ambiente no qual o indivíduo está inserido. Isto é chamado dharma do indivíduo em respeito à sociedade. No avanço da
consciência através do processo de sua evolução descobriremos que existe um
nível ascendente do conceito de altruísmo.
O desejo é
nossa escravidão – ação não é escravidão. Qualquer ação de desejo satisfeito é prisão:
ação ausente de desejo é liberdade. Sempre que a mente fixa sua atenção em
alguma outra coisa além de si mesma, que é suposto ser mais amplo em sua
compreensão do que contemplar a mente ou o self, aquele processo é tido como um
sacrifício. Devemos estar cem por cento convencido que moksha (libertação) é o objetivo da vida, a libertação do espírito
é o objetivo de todas as nossas atividades, todos os nossos estudos, todos os
nossos engajamentos, qualquer coisa que façamos, de qualquer maneira. Mesmo o
entretenimento da noção do Absoluto é uma grande realização. A aspiração de
toda alma a Deus mesmo em seu estágio inicial é superior a todo conhecimento
verbal, perspicácia intelectual, ou aprendizado escritural. O maior devoto de
Deus é aquele que nada pede de Deus; nem mesmo conhecimento, nem mesmo
iluminação, nem mesmo libertação do sofrimento. A mais alta devoção pede apenas
por Deus, e nada por meio de Deus ou vindo de Deus.
Ame a Ele de
todo coração e do fundo do seu ser. Deixe que sua rotina diária esteja
infundida com devoção divina. Trabalhe como um instrumento nas mãos de Deus e
nunca esqueça por um momento a presença deste Pai Supremo. Devemos viver de tal
forma que nem devemos nos retrair de nada, nem devemos deixar que os outros se retraiam
de nós. O alimento que comemos, a forma como falamos, o tipo de relacionamento
que mantemos com os outros, as práticas espirituais em que estamos engajados,
tudo está enraizado e definido pela crença ou pela fé que temos como filosofia em
nossas vidas. Devemos estar aptos a nos conectar com cada pequena coisa no
mundo com o principal propósito de libertação do espírito. Nosso dever, contudo,
é render nossa individualidade àquele Ser, que chamados o Todo Poderoso. Nossa
bem-aventurança está aqui.
As ações de
um jivanmukta não são individuais, são
atos universais. Ele não pensa como eu ou você. É um pensamento que inclui cada
pensamento. Ele não tem consciência de um invólucro particular em algum corpo
individual. No momento que o indivíduo se conscientiza do objetivo de sua vida,
é necessário ver que toda atividade do indivíduo está de uma forma ou de outra harmonizada
com este objetivo. O indivíduo não deve fazer nenhuma coisa incompatível com a
própria consciência e contra o propósito que ele possui em mãos. Portanto, isto
é o que é necessário para que toda a vida do indivíduo seja transformada numa
arte espiritual através da completa dedicação. Repita sempre para si mesmo as
experiências pelas quais passaram os antigos sábios e santos. Eles passaram
pela mesma dificuldade. Eles foram cidadãos comuns como cada um de nós; eles se
destacaram pela compreensão que exercitaram e pelo sucesso alcançado na
restrição dos órgãos dos sentidos. Swami Sivananda foi uma grande encarnação da
exclusividade das forças da natureza e das pessoas em um único indivíduo. Ele
foi um grande adorador de Deus, ele foi um amante dos seres humanos e da
natureza. Um chefe de família não é uma pessoa fazendo muitas coisas, mas
pensando de várias formas. O apego não é necessariamente físico, mas a maior
parte psicológica. Você deve cumprir com suas obrigações para com sua família,
mas não deve se apegar a família.
As vezes uma
ideia estúpida surge na mente das pessoas: “Qual o benefício de estar no
caminho para alcançar moksha quando
todos os outros aqui sofrem? Deixe-me esperar pelos outros.” Eles estão lá e
são tão importantes quanto nossos irmãos no processo de sonho. A coisa toda
ascende, um único mar de gente. Você é capaz de viver sozinho? Estar
literalmente sozinho é muito difícil de conceber, mas é necessário “passar no teste.”
A parte social de sua personalidade se revoltará contra a vida individual que
está forçando no seu interior. Muitos de nós se encontram numa atmosfera
social, e se você está fora dessa condição social e vive completamente sozinho,
você pode se sentir miserável naquele momento. O estudo diário do sagrado, a
recitação do nome divino, entoação do nome de Deus, ou do mantra, recorrer ao
guru, participar da satsanga
(companhia sagrada) de santos e sábios, estar com eles, ouvir seus discursos –
tudo isso produzirá um efeito cumulativo de força e segurança em sua mente de
forma que os problemas mencionados gradualmente diminuirão em sua intensidade e
mais tarde desaparecerão por completo. A forma ainda mais superior de adoração do
que a oferta de uma folha ou flor, é a adoração através do Nome de Deus. Tomar
o Nome de Deus não requer nem mesmo uma pequena gota de água ou leite, uma flor
ou mel. Aqui, a própria mente é o aparato ou instrumento de adoração, e a coisa
ofertada aos pés de lótus do Senhor é também a mente. A maior devoção é revelada
nos atos de adoração mental.
“Morrer para viver,” é o refrão de um
dos cantos de Sua Santidade Sri Swami Sivananda Maharaj. A menos que você morra
para o self, você não será capaz de viver a vida eterna. A menos que você
renasça e seja como uma criança, você não será capaz de entrar nos portões do
céu, disse o Cristo.
(Extraído de sivanandaonline.org / Tradução livre)
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