quarta-feira, 25 de maio de 2016

12. O Que É Verdadeiramente Religião

A completa reação do homem inteiro ao todo do universo é religião. Poderíamos também seguir a partir desta reflexão que religião inclui o todo da vida, e não meramente um segmento da vida; A religião geralmente não está associada com o todo da vida do indivíduo; ela é mantida nos bolsos e tirada somente quando o indivíduo entra num templo, vai à igreja, ou senta-se perante um homem santo. Religião é um sacrifício. É a dedicação do self. A religião não se esgota com a oferenda de algum objeto ao Deus conceitual. Religião é algo que consiste puramente de experiência, e, portanto, não pode ser explicada em termos empíricos. A religião é a mais elevada experiência possível do homem, a compreensão das profundezas do espírito do próprio indivíduo, em cujo ato o indivíduo entra em contato com a verdadeira essência do cosmos. O progresso da consciência religiosa de um nível a outro é uma ascensão das totalidades. Sempre que o indivíduo sente como contemplando um objetivo religioso nas meditações ou numa prece, o indivíduo deve primeiro de tudo assegurar a si próprio que o todo o self está lá pronto para se encontrar com a completa realidade.

Quando o indivíduo entra na consciência religiosa, em qualquer nível que seja, ele é totalmente conduzido. O espírito fica num estado de arrebatamento. O indivíduo permanece então num grande mar de deleite, porque o todo que está acima tenta puxá-lo para fora dos níveis inferiores nos quais o indivíduo encontra-se envolvido. Isto é como se o âmago da individualidade do indivíduo estivesse sendo extraído de sua concha. Quando a religião se apodera do homem, ela o retira totalmente de seus enredamentos parciais das guloseimas do mundo da mente e dos sentidos. Ele é arrastado para fora da lama, quando a consciência religiosa o inunda.



Todos os aspectos da vida, que são as preocupações do homem, devem ser tidas como as necessidades a serem transformadas em esforço religioso. Qualquer que seja a ocupação do homem na vida, esta tem que se tornar sua religião – aquela tem que se tornar um caminho para Deus. Religião é o todo da vida. Ela é uma sintonização interna de si próprio com a regra cósmica. O interior, constituído de diferentes níveis da personalidade, deve ser levado em consideração em todos os seus níveis quando o indivíduo vive uma vida religiosa. Caridade não significa somente repartir alguns dólares ou libras. Caridade é uma atitude da mente. Ela pode ser expressa na forma de ação física ou não. Ela inclui sentimentos caridosos, uma atitude caridosa, conduta e comportamento em direção aos outros.

Realizamos caridade não porque somos ricos e os outros são pobres. Ao contrário, os outros são igualmente importantes e ele devem ter tanto direito de existir quanto nós mesmos. A habilidade de ver Deus em todas as coisas é mais importante, e uma mente assim purificada torna-se apta a adorar Deus. Uma mente impura não pode adorar Deus. Portanto, Karma Yoga, ou serviço desinteressado, torna-se necessário à purificação da mente e a torna apta para a adoração a Deus.

Qual é o mais profundo significado de ahimsa (não ferir)?  O indivíduo deve ser amigo de todos. Quando alguém que é amigo de todos tem a intenção no bem-estar de todos os seres, ele não machuca ninguém. Existe sacralidade e santidade presente em todo lugar, e reverência pela vida é o emblema da verdadeira cultura. Veracidade é muito simples e muito fácil de compreender, porque a mentira não é nada além do que exploração. O indivíduo não deveria mentir, a menos que tenha interesse em explorar alguém. Brahmacharya é um ajustamento gradual das forças da personalidade do indivíduo em direção as mais amplas dimensões da personalidade, porque o Absoluto é a Suprema Impersonalidade. Brahmacharya significa privar-se de outros interesses além do interesse na Yoga. Um objeto de distração pode ser qualquer coisa. Se possuímos um forte interesse por algo que distraia nossa atenção, a energia se vai. Qualquer tido de escoamento de energia em qualquer direção causada por evento ou contexto é ruptura de brahmacharya.

Se existe alguém que possui um mínimo de honesta devoção direcionada a realização de Deus, e à prática de Yoga em sua essencialidade, certamente ele está trilhando o caminho da verdade, e, portanto, está compelido a ter sucesso nessa medida. Svadhyaya (estudo) não é ir à biblioteca e ler algo que esteja lá. É o estudo sagrado, o estudo do próprio self do indivíduo, ou melhor o estudo de algo que esteja conectado com a natureza do próprio self do indivíduo. Oração faz milagres e maravilhas; uma atitude de humildade de nossa parte será de grande valia para nós. Através de orações sinceras que oferecemos a Deus, invocamos Suas bênçãos, e as ações de Deus são instantâneas. Ele fará a sadhana (prática espiritual) para nós. O espírito em nosso interior, que busca superar a si mesmo numa comunhão ampla, é o espírito da religião.

O indivíduo torna-se uma pessoa verdadeiramente religiosa quando começa a ver o mesmo Deus em todas as formas, não meramente em uma única forma. Temos piedade no interior de nosso quarto, e uma religião completamente diferente quando caminhamos na estrada ou comprarmos um pacote de biscoitos numa loja, ou viajamos no ônibus ou trem. Se nosso confronto com a vida nesses vários aspectos que estamos involuntariamente e necessariamente envolvidos pode estar carregado com o espírito de religião, nós podemos ser tidos como verdadeiros religiosos, e Deus nos ajudará em toda parte. Religião não se torna religião e o espiritual não se torna espiritualidade a menos que nossa perspectiva em respeito ao todo da vida esteja em sintonia com as demandas da natureza de Deus e o relacionamento interno que subsiste entre Deus, mundo e espírito. Uma agitação emocional de entusiasmo de amor a Deus, devido ao estudo das escrituras ou textos místicos, ou ao escutar o sermão do mestre, não pode servir de apoio confiável para o que virá. Deve existir uma convicção que venha do fundo no coração.

“Eu não tenho obrigação.” Isto poderia ser um argumento falacioso, porque aqui estamos tentando introduzir um nível metafísico numa atmosfera social, que não deveria ser feita enquanto o indivíduo estivesse obviamente consciente do fato de que a atmosfera social é uma realidade. Qualquer coisa que você reconheça como realidade não pode ser ignorada quando algum argumento é desenvolvido. Não podemos esperar facilidades da sociedade e então sentir que não temos obrigações em troca. Existe uma obrigação para todo mundo em respeito ao ambiente no qual o indivíduo está inserido. Isto é chamado dharma do indivíduo em respeito à sociedade. No avanço da consciência através do processo de sua evolução descobriremos que existe um nível ascendente do conceito de altruísmo.

O desejo é nossa escravidão – ação não é escravidão. Qualquer ação de desejo satisfeito é prisão: ação ausente de desejo é liberdade. Sempre que a mente fixa sua atenção em alguma outra coisa além de si mesma, que é suposto ser mais amplo em sua compreensão do que contemplar a mente ou o self, aquele processo é tido como um sacrifício. Devemos estar cem por cento convencido que moksha (libertação) é o objetivo da vida, a libertação do espírito é o objetivo de todas as nossas atividades, todos os nossos estudos, todos os nossos engajamentos, qualquer coisa que façamos, de qualquer maneira. Mesmo o entretenimento da noção do Absoluto é uma grande realização. A aspiração de toda alma a Deus mesmo em seu estágio inicial é superior a todo conhecimento verbal, perspicácia intelectual, ou aprendizado escritural. O maior devoto de Deus é aquele que nada pede de Deus; nem mesmo conhecimento, nem mesmo iluminação, nem mesmo libertação do sofrimento. A mais alta devoção pede apenas por Deus, e nada por meio de Deus ou vindo de Deus.   

Ame a Ele de todo coração e do fundo do seu ser. Deixe que sua rotina diária esteja infundida com devoção divina. Trabalhe como um instrumento nas mãos de Deus e nunca esqueça por um momento a presença deste Pai Supremo. Devemos viver de tal forma que nem devemos nos retrair de nada, nem devemos deixar que os outros se retraiam de nós. O alimento que comemos, a forma como falamos, o tipo de relacionamento que mantemos com os outros, as práticas espirituais em que estamos engajados, tudo está enraizado e definido pela crença ou pela fé que temos como filosofia em nossas vidas. Devemos estar aptos a nos conectar com cada pequena coisa no mundo com o principal propósito de libertação do espírito. Nosso dever, contudo, é render nossa individualidade àquele Ser, que chamados o Todo Poderoso. Nossa bem-aventurança está aqui.

As ações de um jivanmukta não são individuais, são atos universais. Ele não pensa como eu ou você. É um pensamento que inclui cada pensamento. Ele não tem consciência de um invólucro particular em algum corpo individual. No momento que o indivíduo se conscientiza do objetivo de sua vida, é necessário ver que toda atividade do indivíduo está de uma forma ou de outra harmonizada com este objetivo. O indivíduo não deve fazer nenhuma coisa incompatível com a própria consciência e contra o propósito que ele possui em mãos. Portanto, isto é o que é necessário para que toda a vida do indivíduo seja transformada numa arte espiritual através da completa dedicação. Repita sempre para si mesmo as experiências pelas quais passaram os antigos sábios e santos. Eles passaram pela mesma dificuldade. Eles foram cidadãos comuns como cada um de nós; eles se destacaram pela compreensão que exercitaram e pelo sucesso alcançado na restrição dos órgãos dos sentidos. Swami Sivananda foi uma grande encarnação da exclusividade das forças da natureza e das pessoas em um único indivíduo. Ele foi um grande adorador de Deus, ele foi um amante dos seres humanos e da natureza. Um chefe de família não é uma pessoa fazendo muitas coisas, mas pensando de várias formas. O apego não é necessariamente físico, mas a maior parte psicológica. Você deve cumprir com suas obrigações para com sua família, mas não deve se apegar a família.

As vezes uma ideia estúpida surge na mente das pessoas: “Qual o benefício de estar no caminho para alcançar moksha quando todos os outros aqui sofrem? Deixe-me esperar pelos outros.” Eles estão lá e são tão importantes quanto nossos irmãos no processo de sonho. A coisa toda ascende, um único mar de gente. Você é capaz de viver sozinho? Estar literalmente sozinho é muito difícil de conceber, mas é necessário “passar no teste.” A parte social de sua personalidade se revoltará contra a vida individual que está forçando no seu interior. Muitos de nós se encontram numa atmosfera social, e se você está fora dessa condição social e vive completamente sozinho, você pode se sentir miserável naquele momento. O estudo diário do sagrado, a recitação do nome divino, entoação do nome de Deus, ou do mantra, recorrer ao guru, participar da satsanga (companhia sagrada) de santos e sábios, estar com eles, ouvir seus discursos – tudo isso produzirá um efeito cumulativo de força e segurança em sua mente de forma que os problemas mencionados gradualmente diminuirão em sua intensidade e mais tarde desaparecerão por completo. A forma ainda mais superior de adoração do que a oferta de uma folha ou flor, é a adoração através do Nome de Deus. Tomar o Nome de Deus não requer nem mesmo uma pequena gota de água ou leite, uma flor ou mel. Aqui, a própria mente é o aparato ou instrumento de adoração, e a coisa ofertada aos pés de lótus do Senhor é também a mente. A maior devoção é revelada nos atos de adoração mental.


“Morrer para viver,” é o refrão de um dos cantos de Sua Santidade Sri Swami Sivananda Maharaj. A menos que você morra para o self, você não será capaz de viver a vida eterna. A menos que você renasça e seja como uma criança, você não será capaz de entrar nos portões do céu, disse o Cristo.

(Extraído de sivanandaonline.org / Tradução livre)

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