11. Investigação
Filosófica
A
investigação filosófica pode ser comparada, de certa forma, a um diagnóstico
médico e a uma investigação. Ela é uma sutil e profunda compreensão dos
componentes básicos da experiência, similar a investigação dos vários métodos aplicados
na área médica. O começo da filosofia é o grande esforço da mente para se elevar
acima da mera perspectiva humana. O indivíduo pode tornar-se um professor de
filosofia, mas não facilmente um filósofo. Um filósofo é o indivíduo que possui
um profundo conhecimento da substância das coisas, e não das aparências impostas
pela vida comum.
O
aprofundamento filosófico é o despertar de uma nova luz a partir do interior, com
a qual o indivíduo é ajudado a iluminar os cantos escuros da terra, e empreende
ver as coisas em suas cores verdadeiras, ao invés de ser levado por suas formas
e aparências camaleônicas. Nenhum ponto de vista pode ser tido como
absolutamente correto. É, portanto, fútil e bobo se agarrar a própria opinião
do indivíduo de forma completa e incondicional, sem dar nenhum crédito às
opiniões ou sentimentos dos outros. Todos os pontos de vista são expressões dos
aspectos da manifestação da verdade.
Porque possuímos
algumas características de Deus em nós, aspiramos por Ele. Se estivéssemos
totalmente separados da divindade, então não existiria desejo por liberação.
Algo de eterno fala mesmo na estrutura mortal de nossa personalidade.
A
relatividade das coisas no mundo é um indicador da possibilidade da existência
de algo que não seja relativo. A ideia de relatividade não pode surgir a menos
que exista algo que nos faça sentir que as coisas são relativas.
Num
determinado estágio de nossas buscas espirituais, nos encontramos na noite
escura da alma, como os místicos chamam esta condição. Esta condição não nos
acontece nos estágios iniciais da vida espiritual, quando tudo parece brilhar
como a luz do dia. Mas quando chegamos na metade do caminho, vemos uma
escuridão à nossa frente. A sabedoria consiste em compreender este processo de
conectar as atividades do indivíduo com o Todo ao qual ele pertence. Qualquer
tipo de egoísmo ou ênfase na particularidade do próprio indivíduo ou finitude
no processo de engajar-se a si mesmo numa ação pode não ser uma Yoga, mas uma
passagem para a escravidão do indivíduo.
O fruto ou
consequência de uma ação é decidida por fatores além da compreensão do indivíduo
humano, e portanto, esperar por um determinado fruto pode ser o cume da
ignorância. Não devemos fazer julgamento sobre ação porque sucesso e falha não
são tidos como critério de correção de uma ação, porque são avaliações a partir
de nosso ponto de vista e não necessariamente do ponto de vista total do
propósito do universo. Tudo será para o melhor daquela pessoa que deixa de ser
uma pessoa. Aquela pessoa se torna uma “Im-pessoa” e, portanto, tudo é bem-vindo,
tudo poderia estar bem. Quando pedimos um copo de chá, o que estamos pedindo
não é um pouco daquela bebida, mas a liberdade da agonia da finitude, do
sofrimento no qual estamos mergulhamos pelas limitações de nossa personalidade.
Eu não
existo por mim mesmo, e você não existe por si mesmo. Nada existe por si mesmo.
Tudo existe para todo o resto.
Tudo deve
ser feito com grande cuidado, calma e compostura interior, e não seremos
perdedores se tomarmos tempo nisto, porque é sábio levar tempo para entender
cada passo, do que se apressar e perder tudo o que foi adquirido.
O amor é somente o reconhecimento da presença do Self naquilo que amamos; se o Self não estiver lá, amor é impensável. Todo amor é amor próprio em várias conotações do significado do “self”. Se esquecemos a presença do poderoso Absoluto mesmo que por um momento, a ação se torna nossa ação, e ela repercute em nós, e deveremos ser responsáveis pelas suas consequências. Somos, portanto, perpetuamente mantidos conscientes de nossa inseparabilidade com o Supremo Criador. Mesmo quando realizamos atos caridosos, isto não deve ser feito como se fosse prerrogativa de nosso esforço. Nossos bons atos não são supostamente “nossos” atos, eles não pertencem a “nós”, pois nenhuma ação pode nos pertencer, realmente. Quando o conhecimento desponta, ocorre um adormecimento de todo relacionamento. A maior forma de desapego não é separar o indivíduo de algo existente, mas o elevar de si mesmo para uma consciência de caráter difuso da Realidade que existe igualmente no sujeito e objeto. Não podemos ainda compreender nenhum aspecto da realidade que não está no espaço, que não está no tempo e que não está relacionada à causalidade.
Pensar não é
uma atividade isolada que ocorre no interior de nossas cabeças. Quando
pensamos, não pensamos privativamente no interior de nossos crânios; é uma
vibração que criamos em nós. A vibração de uma pessoa não é meramente no corpo
físico – ela emana como uma aura a uma certa distância do corpo da pessoa. Tudo
está em todas as coisas, e qualquer coisa está em todo lugar. Não existe tal
coisa como pessoa individual ou corpo particular.
O que
chamamos morte é a saída da vida de um corpo particular. Então morte não é a morte
do princípio da vida em si. A própria vida não morre. A vitalidade é
transferida de um local para outro. O que está no interior da semente de uma
planta? É uma grande maravilha. Você
pode dizer que não vê nada lá; é praticamente invisível e não existente. Este
algo aparentemente não existente, muito pequeno, a essência sutil lá no
interior daquela pequena semente, tornou-se esta grande árvore na sua frente.
Para todos
os efeitos externos práticos, o homem liberado e o homem confinado se parecem.
Ambos falam da mesma forma, comem do mesmo modo, vivem da mesma forma. A
diferença está no interior. É aquilo que o ser liberado conhece que ele é,
enquanto no outro caso ele não sabe quem ele realmente é. Um é livre na medida de
seu conhecimento. Então, conhecimento é poder. Onde existe verdadeiro
conhecimento, também existirá poder na medida de atuação daquele conhecimento. O
controle completo de uma coisa particular é exercido somente na medida de
absorção daquela coisa particular em si mesma. Qualquer coisa que faça parte da
nossa identidade é por nós controlada, e dela somos o senhor. Não somos mestres
de nada que está em nosso exterior. Então, no domínio da mente, devemos ser
mestres.
Todos
aqueles que morreram há eras, milhões e milhões de anos, e todos aqueles que
ainda não nasceram, mas são manifestações deles agora ou nas eras vindouras - todas
essas formas são capazes de serem percebidas no próprio coração do indivíduo.
Sabemos
muito bem quanta escravidão existe na individualidade corpórea. As condições do
corpo, que são os efeitos nos quais as leis físicas da natureza trabalham, nos
limita. Então, não existe liberdade exceto no estado de universalidade. Não
existe liberdade enquanto existir um corpo. Contudo, a consciência da
existência do corpo não é necessariamente um mal, desde que seja experienciada na
perspectiva adequada. A mera presença do corpo não é uma escravidão se for conhecida
em sua realidade.
Dizem que o grande Ramatirtha possuía uma técnica especial por ele criada para o
autocontrole. Ele costumava fazer uma lista de todos os seus desejos. Não era brincadeira.
Era uma investigação honesta de sua própria mente. Até certo ponto podemos
saber quais são os nossos desejos.
A disciplina
de Brahmacharya, da qual fala o Upanishad, é a disciplina de lidar com
os desejos. O que você vai fazer com os seus desejos? Você irá tolerá-los, ou
se opor e aniquilá-los, ou usufruí-los? Um método habilidoso deve ser empregado
– não subjugar, não aniquilá-los, não satisfazê-los, no sentido literal, mas
combatendo-os da forma que podem ser combatidos, sob as circunstâncias em que
são colocados.
Definitivamente,
não existe tal coisa como vida não espiritual. A ideia de “Eu” e “meu” é a
causa desta noção peculiar da mente, de existir uma distinção entre uma vida
comum e uma vida espiritual. Pergunte a si mesmo: “Que tipo de pessoa sou?” Vá
para seu quarto, feche a porta, desligue o telefone, feche os olhos e pense
você mesmo. Uma revelação brotará de você mesmo, que é o contrário do que você
pensou. Não existe realmente tal coisa como renúncia de qualquer coisa, porque
nada neste mundo realmente lhe pertence. Afinal, quem atinge a salvação? Tomado
num sentido individualista, nem você nem ninguém, porque é o próprio Atman que atinge
a salvação.
Você deve
manter boa companhia. Mas, se você é forçado a viver no meio de pessoas
incompatíveis, você tem duas escolhas. Você pode exercer sua influência sobre a
atmosfera das pessoas dissidentes e provocar um tipo de transformação entre
elas, e tornar um círculo de boa convivência. Se isto não for possível, ignore
suas existências, e esteja interessado nelas apenas como prática do exercício
do dia-a-dia de trabalho.
Estou olhando para você, e quando olho para você
vejo seus olhos; eles estão fora de mim. Mas esta não é uma forma apropriada de
olhar para você. Você tem que olhar através de meus olhos e devo olhá-lo
através de seus olhos, assim ao invés de estarmos face a face, estaremos em sincronia.
Um entra no outro. A desconexão total de todo tipo de atividade é uma espécie de
descontentamento doentio. Sem alguma atividade o indivíduo não pode existir
mesmo que por um momento. Se Deus não fala, o diabo começa a falar. Um cérebro
ocioso é oficina do diabo. Não imagine que quando você nada estiver fazendo, a
divindade estará trabalhando por você. Igualmente, a outra coisa também pode
estar no trabalho.
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