segunda-feira, 2 de maio de 2016



11. Investigação Filosófica

A investigação filosófica pode ser comparada, de certa forma, a um diagnóstico médico e a uma investigação. Ela é uma sutil e profunda compreensão dos componentes básicos da experiência, similar a investigação dos vários métodos aplicados na área médica. O começo da filosofia é o grande esforço da mente para se elevar acima da mera perspectiva humana. O indivíduo pode tornar-se um professor de filosofia, mas não facilmente um filósofo. Um filósofo é o indivíduo que possui um profundo conhecimento da substância das coisas, e não das aparências impostas pela vida comum.

O aprofundamento filosófico é o despertar de uma nova luz a partir do interior, com a qual o indivíduo é ajudado a iluminar os cantos escuros da terra, e empreende ver as coisas em suas cores verdadeiras, ao invés de ser levado por suas formas e aparências camaleônicas. Nenhum ponto de vista pode ser tido como absolutamente correto. É, portanto, fútil e bobo se agarrar a própria opinião do indivíduo de forma completa e incondicional, sem dar nenhum crédito às opiniões ou sentimentos dos outros. Todos os pontos de vista são expressões dos aspectos da manifestação da verdade.

Porque possuímos algumas características de Deus em nós, aspiramos por Ele. Se estivéssemos totalmente separados da divindade, então não existiria desejo por liberação. Algo de eterno fala mesmo na estrutura mortal de nossa personalidade.

A relatividade das coisas no mundo é um indicador da possibilidade da existência de algo que não seja relativo. A ideia de relatividade não pode surgir a menos que exista algo que nos faça sentir que as coisas são relativas.

Num determinado estágio de nossas buscas espirituais, nos encontramos na noite escura da alma, como os místicos chamam esta condição. Esta condição não nos acontece nos estágios iniciais da vida espiritual, quando tudo parece brilhar como a luz do dia. Mas quando chegamos na metade do caminho, vemos uma escuridão à nossa frente. A sabedoria consiste em compreender este processo de conectar as atividades do indivíduo com o Todo ao qual ele pertence. Qualquer tipo de egoísmo ou ênfase na particularidade do próprio indivíduo ou finitude no processo de engajar-se a si mesmo numa ação pode não ser uma Yoga, mas uma passagem para a escravidão do indivíduo.

O fruto ou consequência de uma ação é decidida por fatores além da compreensão do indivíduo humano, e portanto, esperar por um determinado fruto pode ser o cume da ignorância. Não devemos fazer julgamento sobre ação porque sucesso e falha não são tidos como critério de correção de uma ação, porque são avaliações a partir de nosso ponto de vista e não necessariamente do ponto de vista total do propósito do universo. Tudo será para o melhor daquela pessoa que deixa de ser uma pessoa. Aquela pessoa se torna uma “Im-pessoa” e, portanto, tudo é bem-vindo, tudo poderia estar bem. Quando pedimos um copo de chá, o que estamos pedindo não é um pouco daquela bebida, mas a liberdade da agonia da finitude, do sofrimento no qual estamos mergulhamos pelas limitações de nossa personalidade.

Eu não existo por mim mesmo, e você não existe por si mesmo. Nada existe por si mesmo. Tudo existe para todo o resto.

Tudo deve ser feito com grande cuidado, calma e compostura interior, e não seremos perdedores se tomarmos tempo nisto, porque é sábio levar tempo para entender cada passo, do que se apressar e perder tudo o que foi adquirido.

O amor é somente o reconhecimento da presença do Self naquilo que amamos; se o Self não estiver lá, amor é impensável. Todo amor é amor próprio em várias conotações do significado do “self”. Se esquecemos a presença do poderoso Absoluto mesmo que por um momento, a ação se torna nossa ação, e ela repercute em nós, e deveremos ser responsáveis pelas suas consequências. Somos, portanto, perpetuamente mantidos conscientes de nossa inseparabilidade com o Supremo Criador. Mesmo quando realizamos atos caridosos, isto não deve ser feito como se fosse prerrogativa de nosso esforço. Nossos bons atos não são supostamente “nossos” atos, eles não pertencem a “nós”, pois nenhuma ação pode nos pertencer, realmente. Quando o conhecimento desponta, ocorre um adormecimento de todo relacionamento. A maior forma de desapego não é separar o indivíduo de algo existente, mas o elevar de si mesmo para uma consciência de caráter difuso da Realidade que existe igualmente no sujeito e objeto. Não podemos ainda compreender nenhum aspecto da realidade que não está no espaço, que não está no tempo e que não está relacionada à causalidade.

Pensar não é uma atividade isolada que ocorre no interior de nossas cabeças. Quando pensamos, não pensamos privativamente no interior de nossos crânios; é uma vibração que criamos em nós. A vibração de uma pessoa não é meramente no corpo físico – ela emana como uma aura a uma certa distância do corpo da pessoa. Tudo está em todas as coisas, e qualquer coisa está em todo lugar. Não existe tal coisa como pessoa individual ou corpo particular.

O que chamamos morte é a saída da vida de um corpo particular. Então morte não é a morte do princípio da vida em si. A própria vida não morre. A vitalidade é transferida de um local para outro. O que está no interior da semente de uma planta?  É uma grande maravilha. Você pode dizer que não vê nada lá; é praticamente invisível e não existente. Este algo aparentemente não existente, muito pequeno, a essência sutil lá no interior daquela pequena semente, tornou-se esta grande árvore na sua frente.  

Para todos os efeitos externos práticos, o homem liberado e o homem confinado se parecem. Ambos falam da mesma forma, comem do mesmo modo, vivem da mesma forma. A diferença está no interior. É aquilo que o ser liberado conhece que ele é, enquanto no outro caso ele não sabe quem ele realmente é. Um é livre na medida de seu conhecimento. Então, conhecimento é poder. Onde existe verdadeiro conhecimento, também existirá poder na medida de atuação daquele conhecimento. O controle completo de uma coisa particular é exercido somente na medida de absorção daquela coisa particular em si mesma. Qualquer coisa que faça parte da nossa identidade é por nós controlada, e dela somos o senhor. Não somos mestres de nada que está em nosso exterior. Então, no domínio da mente, devemos ser mestres.

Todos aqueles que morreram há eras, milhões e milhões de anos, e todos aqueles que ainda não nasceram, mas são manifestações deles agora ou nas eras vindouras - todas essas formas são capazes de serem percebidas no próprio coração do indivíduo.
Sabemos muito bem quanta escravidão existe na individualidade corpórea. As condições do corpo, que são os efeitos nos quais as leis físicas da natureza trabalham, nos limita. Então, não existe liberdade exceto no estado de universalidade. Não existe liberdade enquanto existir um corpo. Contudo, a consciência da existência do corpo não é necessariamente um mal, desde que seja experienciada na perspectiva adequada. A mera presença do corpo não é uma escravidão se for conhecida em sua realidade.

Dizem que o grande Ramatirtha possuía uma técnica especial por ele criada para o autocontrole. Ele costumava fazer uma lista de todos os seus desejos. Não era brincadeira. Era uma investigação honesta de sua própria mente. Até certo ponto podemos saber quais são os nossos desejos.

A disciplina de Brahmacharya, da qual fala o Upanishad, é a disciplina de lidar com os desejos. O que você vai fazer com os seus desejos? Você irá tolerá-los, ou se opor e aniquilá-los, ou usufruí-los? Um método habilidoso deve ser empregado – não subjugar, não aniquilá-los, não satisfazê-los, no sentido literal, mas combatendo-os da forma que podem ser combatidos, sob as circunstâncias em que são colocados.

Definitivamente, não existe tal coisa como vida não espiritual. A ideia de “Eu” e “meu” é a causa desta noção peculiar da mente, de existir uma distinção entre uma vida comum e uma vida espiritual. Pergunte a si mesmo: “Que tipo de pessoa sou?” Vá para seu quarto, feche a porta, desligue o telefone, feche os olhos e pense você mesmo. Uma revelação brotará de você mesmo, que é o contrário do que você pensou. Não existe realmente tal coisa como renúncia de qualquer coisa, porque nada neste mundo realmente lhe pertence. Afinal, quem atinge a salvação? Tomado num sentido individualista, nem você nem ninguém, porque é o próprio Atman que atinge a salvação.

Você deve manter boa companhia. Mas, se você é forçado a viver no meio de pessoas incompatíveis, você tem duas escolhas. Você pode exercer sua influência sobre a atmosfera das pessoas dissidentes e provocar um tipo de transformação entre elas, e tornar um círculo de boa convivência. Se isto não for possível, ignore suas existências, e esteja interessado nelas apenas como prática do exercício do dia-a-dia de trabalho.

Estou olhando para você, e quando olho para você vejo seus olhos; eles estão fora de mim. Mas esta não é uma forma apropriada de olhar para você. Você tem que olhar através de meus olhos e devo olhá-lo através de seus olhos, assim ao invés de estarmos face a face, estaremos em sincronia. Um entra no outro. A desconexão total de todo tipo de atividade é uma espécie de descontentamento doentio. Sem alguma atividade o indivíduo não pode existir mesmo que por um momento. Se Deus não fala, o diabo começa a falar. Um cérebro ocioso é oficina do diabo. Não imagine que quando você nada estiver fazendo, a divindade estará trabalhando por você. Igualmente, a outra coisa também pode estar no trabalho.

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