17. Meditação
Embora
sejamos aconselhados a separar um espaço de tempo diariamente para a meditação, é também essencial que
levemos esse estado de ânimo da meditação ao longo de nossas atividades
diárias. Embora seja difícil fazer uma reaproximação entre a religião e o laico,
uma forma elevada de consciência religiosa deve ser capaz de afetar esta
harmonia.
O espírito
de adoração religiosa e meditação deve saturar e infiltrar-se na vida secular,
supondo que vida é para se tornar um todo saudável. Assim como a roupa lavada
absorve em toda sua fibra o todo da água, a aparente vida secular deve se
tornar um passo vivo para uma dimensão mais organizada de experiência
religiosa.
Um fundo de
pensamento elevado deve ser mantido, e não pode ser perdido de vista mesmo no
meio do árduo trabalho.
Num segundo,
o indivíduo pode ser qualitativamente elevado a uma imensa força de união com
Deus. Levará apenas um momento para se atingir este feito. Não é
necessariamente verdade que as ocupações do dia de trabalho devam ser um
obstáculo nesta prática de manter um elevado nível de pensamento
rejuvenescedor. Meditação não é meramente um ato psicológico ou um movimento
físico, ou mesmo um ajustamento social, mas uma atitude trans- empírica, de
tudo o que o indivíduo é. Ela é uma perfeição da perspectiva que o indivíduo
adota por causa dos fatos da vida. A meditação leva a uma gradual ascensão do
self a níveis de expansividade.
Na meditação, o indivíduo tem que estar apto a se colocar numa atmosfera que se eleva acima da distinção entre o si mesmo e os objetos da experiência. Isto requer um novo tipo de esforço, que insta a totalidade do nosso ser. O indivíduo não sai da meditação a mesma pessoa que foi antes. O indivíduo tornar-se uma coisa totalmente diferente, com uma nova alegria imbuída e uma nova força sentida no interior. A razão por trás disso e que a consciência ultrapassou os limites dos objetos sensoriais e a individualidade física.
Meditação é
a mais elevada forma de relaxamento, onde o indivíduo está livre das tensões,
onde o indivíduo não está nem mesmo ciente que está concentrando ou fazendo
algo. O indivíduo é completamente liberado de todos os aborrecimentos dos
sentidos. Quando estamos numa posição não subjetiva, que é a posição da
meditação, somos amigos de todos. Nos tornamos benfeitores, simpatizantes,
filósofos e guias de todos.
Como uma
pequena bola de mercúrio que não pode ser facilmente mantida na mão, a mente
escorre de nosso controle quanto tentamos meditar. Entretanto quando mais
lutamos, ela não se concentra. É como um búfalo selvagem que nos fere até a
morte, ao invés de aceitar nossos conselhos ou ensinamentos. Então, o estudante
de Yoga tem que prosseguir de forma muito lenta e cautelosa.
A mente está
acostumada a imaginar que existe um grande significado na sua conexão com os
objetos. A primeira e mais importante tarefa do estudante de Yoga é educar a
mente no que diz respeito ao relacionamento adequado com os objetos.
Mesmo depois
de estarmos devidamente educados e termos uma compreensão de nossa situação
intelectualmente, nossos instintos continuarão a agir da mesma forma. Isto é
porque os instintos estão mais vitalmente conectados com o estofo da mente do
que com a faculdade racional.
O ideal
escolhido para o propósito da prática de meditação deve ser tal que este tome
totalmente nossa atenção, e invoque nossa devoção e amor. O amor que agita
nosso coração por um ideal é a força que nos dirigirá na direção daquele ideal.
A
concentração em alguma ideia ou ideal, externa ou interna, quebra este nó da
mente, e então automaticamente conhecemos o que que está por trás da mente. O
propósito da concentração é romper a borbulha da mente que cobre a visão
interior.
Um nome
designa uma forma, e um novo de Deus deve ter a mesma similaridade com a natureza
do Próprio Deus. Deus é onipresente e sua onipresença a tudo permeia. O
indivíduo deve estar apto a apreciar o profundo significado oculto por trás do
símbolo “Om” para que possa utilizá-lo com sucesso na meditação, porque este
nome designa aquela forma. Podemos seguramente dizer que o Om é um símbolo
completo, um símbolo super linguístico que não pertence a nenhum idioma. A
completude que caracteriza o produto deste som impessoal é o que o torna mais apropriado
à descrição de Deus.
A mente é
capaz de concentrar-se sobre um objeto que adoramos como a mais divina das coisas.
Quando pensamos em grandes seres como Krishna, Rama, Jesus ou Buda, nossa mente
é transportada para um estado de espírito de intensa espiritualidade e
santidade.
Existe algo esplêndido
e transcendente e além deste mundo, no qual temos que nos concentrar para
despertar deste mundo onírico. Ainda estamos dormindo, comparando com outra
vigília que é cósmica ou universal em sua natureza.
Os cinco
sentidos e intelecto, juntamente com a mente, permanecem estáveis, o intelecto
não oscila, existe uma imutabilidade de toda a psique, como a chama de uma
lâmpada que não oscila num lugar sem vento. Tal é a natureza desta grande
conquista chamada pratyahara.
(retirada da mente dos objetos).
A meditação
não é um experimento que fazemos com as coisas. Ela é um influxo do espírito em
direção àquilo que o indivíduo está totalmente convencido. Não há necessidade
de conduzir nenhum tipo de experimento em relação a isso.
A falsa
ideia de que a meditação é um esforço individual deve ser removida da mente. Também
não existe tal coisa como meditação individual. Meditação é uma atividade
cósmica e não um esforço individual.
Quando um
indivíduo começa a concentrar-se com uma adequada compreensão do significado de
concentração, todo o universo se concentra. Que alegria, que satisfação e que
energia virá, e quão feliz ficará a pessoa naquele momento! Num estado de
espírito apropriado, com a mente firme, sem qualquer outra ocupação na mente, nenhuma
outra demanda chamando por atenção, o indivíduo deverá sentar-se numa postura, e
deverá tentar concentrar a mente.
Aquilo que
temos que rejeitar na meditação não são os próprios pensamentos, mas a forma
como os pensamentos funcionam. A medida que o meditador avança ele se torna mais
concentrado, porque então ele entra em maiores insights.
Japa do nome
do Senhor, concentração no significado do Mantra, ou a fórmula contendo o Nome,
é tida como talvez o melhor método para trazer a mente ao ponto de profunda concentração.
Mantras são como fogo – grandes forças de inteligência diretiva. Todos nós
estamos emocionalmente conectados às coisas. Essas conexões emocionais devem
ser postas em relação direta ou indiretamente, com o propósito de nossa
meditação.
Comunhão com
a Realidade é samadhi. Esta é a meta,
e isto é a própria Yoga. Mas todas as fases da experiência da consciência podem
ser consideradas como uma realidade provisória reality com a qual o indivíduo
tem que estabelecer uma comunhão – Desde os estágios iniciais de yama e nyama e mais tarde através de vários estágios gradualmente
evolucionários no curso da ascensão da alma individual. Quando chegamos ao
clímax da meditação profunda, de acordo com o sistema de Patanjali,
confrontamos com a Realidade em suas cores verdadeiras e não como apareciam
anteriormente ao indivíduo empírico. Quando você se sentar para a meditação,
não deve existir fundo preconcebido de obrigações de qualquer tipo. Seria aconselhável
para cada pessoa que está praticando meditação certificar que todas as
obrigações imediatas devam ser realizadas antes de se sentar para a
meditação.
Não é o
tempo gasto na meditação, mas a necessidade que é importante. Se a mente não
sente necessidade de meditação, uma mera prescrição de lugar e tempo não será
de muito benefício. A mente é trapaceira. Ela nos desaponta a todo momento
porque ela não possui estados de espírito contínuo. A mente permanece absolutamente
estável quando ela está na presença daquilo que gosta imensamente, por isso a
importância da escolha do ideal de meditação. A natureza onipresente de Deus
não exclui nada de seu alcance e inclusão, e aquilo que consideramos como a
melhor coisa de nossa vida pode ser tida como nosso objeto de meditação.
Qualquer coisa pode ser um objeto adequado. O propósito da meditação é romper a
fortaleza da mente que guardou-se muito bem guardada na prisão deste corpo.
Quando você pratica meditação, você está limpando os escombros de sua
personalidade. É como se você estivesse varrendo seu quarto que está fechado há
vários anos. Aqueles que são capazes de ajustar suas mentes de forma indivisa
ao Todo inclusivo Ser Todo Poderoso – eles não sentem falta de nada. A absorção de toda a alma de todo o pensamento
em Deus, com a exclusão de qualquer outra ideia, é a mais elevada prática
espiritual.
Se achar que
a continua contemplação de Deus é impraticável, tente o seu melhor quando
sentar para meditar diariamente e se esforce tenazmente para fixar a atenção da
mente em Deus – mesmo que a inteira absorção não seja possível.
Quem quer
que atingido algum tipo de grandeza na vida alcança somente através do poder da
concentração. Se começamos a pensar em centenas de coisas, nada alcançaremos.
Devemos por e prática uma única coisa de cada vez, colocar nosso espírito e
coração nela ela e então obteremos sucesso. Temos que meditar que tudo vem
Daquele, tudo é sustentado Nele e tudo retorna a Ele. Aquele que é a origem, o
sustentáculo e a dissolução de todas as coisas é este Brahman. “Este Brahman é
o que sou.” Então devemos meditar. No momento em que levantamos pela manhã,
este pensamento deve vir à mente. O progresso de nossa vida na espiritualidade
pode ser julgado a partir do primeiro pensamento que ocorre na mente cedo pela
manhã ao levantarmos.
A Meditação
deve ser uma prática contínua. Por quanto tempo devemos continuar a meditação?
Devemos continuar até que atinjamos a Autorrealização ou até morrer, o que
ocorrer primeiro.
Inconstância
é da natureza da mente. O corpo não sabe na verdade o que deseja; ou seja, a
mente, assim chamada, não sabe o que deseja. Isto ocorre porque existe uma
contradição entre a afirmação de individualidade através da prática do corpo
físico, e os infinito desejos que parecem estar lá por detrás da personalidade.
Isto é o que
a mente nos diz: “Não ouvirei você. Você pode dizer qualquer coisa, que farei
de outro jeito.” Como você irá lidar com isso? Um ataque direto nem sempre funciona,
mesmo em operações militares. Grande sabedoria deve ser exercitada. Devemos nos
retrair, devemos caminhar adiante, e temos que nos tornar invisíveis por algum
tempo, se necessário.
A mente vai a
toda parte, vagueando por todo o mundo, desejando qualquer coisa e rejeitando
qualquer coisa. Coloque uma “cerca” ao redor dela e opere apenas dentro deste
limite. Dê a ela o que ela desejar dentro deste limite; não negue tudo. Mas
você não poderá entreter pequenos desejos mesquinhos e depois sentar para
meditar.
O mundo se
opõe a você nos estágios iniciais da meditação. Quando você agita a mente por amor
aos tesouros que procura, o tesouro não surge. É a potencialidade do apego que
ainda persiste.
Mesmo no
estágio inicial da meditação, você verá que você se levanta da meditação como
um novo indivíduo, como se algo tivesse entrado ou sido injetado em você.
Você não
deve se sentar para meditar pensativo ou desanimado. “Pode ser ou não ser.” Nada
no mundo é bom o bastante como o objeto da meditação; e se este for o caso,
qualquer lugar no mundo é também bom o bastante para se sentar.
Somente o
indivíduo que está completamente satisfeito consigo mesmo é capaz de ascender
aos níveis elevados da meditação. Os pré-requisitos para isto é o autocontrole,
disciplina, raciocínio, desapego, virtudes morais e um desejo por libertação.
Devemos purificar a fundação antes que a meditação se inicie.
Na mediação
a mente deve estar totalmente livre. O tempo que você leva na meditação não é
tão importante quanto a intensidade de seu sentimento durante a meditação.
Se não for
totalmente possível para a mente se concentrar durante o período da meditação
devido a alguma distração, leia uma escritura que seja de seu gosto. Após isto
você poderá interiorizar sua mente do estudo, e diretamente fazer sua
contemplação.
O alvo da
meditação é uma concentração focada na completa estrutura do universo. Para dar
um exemplo, se você tocar alguma parte de seu corpo, você estará tocando todo o
seu corpo, embora isto seja somente o toque de um dedo.
Prossiga com suas meditações por três meses, seis
meses, com sinceridade e intensidade de concentração, continue em horários
fixos do dia, todo dia. Então o todo da personalidade que até então tem sido ignorada
começará a atuar.
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