16. O
Universo
O universo é
um organismo completo, comparável ao organismo humano, por assim dizer. Um
organismo completo é uma Individualidade em sua natureza. Sua Individualidade pode
ser comparada à própria individualidade do ser, porque ela é inseparável do indivíduo,
e o indivíduo é inseparável dela.
A força do
homem depende da energia do Cosmos. Ele recebe sua força do universo. Então, se
ele não estiver harmoniosamente associado com a totalidade da atmosfera, que é
o universo, mas se desarmoniosamente concentra seu amor, ou afeição, ou ódio em
direção a um objeto particular, ele está se dissociando das outras partes do
universo.
Existe um
impulso impessoal que está presente por trás de cada impulso particular no
universo, mantendo tudo em movimento a todo momento, nunca permitindo que ele
se aquiete, empurrando tudo para cada vez mais alto, impulsionando-o para o
exterior. Se algo existe como uma realidade no indivíduo, esta deve ser uma
parte do universo. Não existe individualidade fora do universo. A afirmação de
individualidade de uma pessoa, ou mesmo a noção da presença de algo isolado, é oposta
à constituição do universo. Ao homem não é permitido afirmar-se da forma que faz
diariamente, pois é contrário à lei das coisas. Sua existência como um indivíduo
isolado é contra a lei que opera no universo. Então é aquela Natureza que
revida, e este revide é a inexorável lei do Karma atuando. A natureza transitória
do mundo, e a incessante característica de todas as coisas, deve ser uma
indicação de que o objetivo da vida é transcender as coisas do mundo.
Não
existe tal coisa como um evento local ocorrendo em alguma parte do mundo. Cada
evento trata-se de um evento universal. Da mesma forma, toda experiência é um evento
condicionado universal, do qual nós não conhecemos porque nossas mentes estão
presas a um corpo localizado e devido ao equívoco da mente tomar este corpo
como sendo a completa realidade. Nascimentos e mortes nada são, mas os
processos de experiência e treinamento nesta instituição do universo de forma
que em repetidos nascimentos e mortes você adquire experiência e se movimenta
na direção do que é real, afastando-se, gradualmente, do que é uma aparência.
Você não aprenderá uma lição melhor do que através da experiência da natureza
transitória das coisas. Quando você perde todos os seus bens, quando sua
própria vida está em jogo, você aprende uma lição melhor do que a que aprende
nas universidades. A natureza transitória das coisas aponta para a existência
de um valor eterno na vida.
O mundo o
tratará da mesma forma como você o trata. Se considerá-lo externo a você, ele o
tratará como externo a ele. Nascimentos e mortes são consequências do
afastamento da personalidade das forças naturais. Quando você controla seus
sentidos, o que acontece a você? O mundo o receberá como um amigo e
simpatizante. Nada lhe faltará. Todas as coisas fluirão para você como rios
entrando no oceano. A natureza da realidade torna-se de difícil compreensão
humana por não existir características definidoras da realidade. O teste da
realidade, a natureza da Verdade, é a não contradição. A verdade é aquilo que
jamais pode ser contraditado por nenhuma outra definição, experiência ou
realização, o que significa dizer que a eternidade é o caráter da Verdade. Toda
lei é um terror quando não queremos obedecê-la. Mas a lei passa a ser uma
proteção quando respeitamos suas exigências. O mundo é a lei de Deus. A lei
protege. Nem sempre pune. Ela protege quando a cumprimos, e ela pune quando a
desprezamos e a desrespeitamos. Logo, nossos sofrimentos na vida são devidos à
desobediência da lei que opera neste mundo.
Existe uma
lei que integra os aparentes poderes conflitantes da mesma forma que existe uma
lei em nosso interior que integra as células de nosso corpo físico à totalidade
da personalidade. Existe uma integração da estrutura psíquica assim como o
corpo físico. Isto é o dharma, a lei
que organiza as coisas.
Se não
sabemos como opera a lei do universo em relação a nós mesmos e outras coisas,
se desconhecemos a lei de nosso próprio país, como poderemos cumprir a lei?
Somos ignorantes da lei e propensos a errar. A punição pela nossa transgressão
surge em nós como dor, tristeza, infelicidade e insegurança – um sentimento de
que algo está errado.
O aspirante
espiritual deve estar confiante de que tudo que ele precisa lhe será provido
pelas próprias leis da existência. É a lei que lhe supre com força, não os
objetos do sentido. A obediência à lei é ao mesmo tempo uma aquisição de poder,
porque a lei protege. O todo do universo é morte manifesta, diz Buda, o grande
vidente de nossos tempos históricos. A morte torna-se um mestre quando
despertamos para o fato deste processo de transitoriedade de tudo.
O retorno do
efeito em causa, ou a realização de Deus como Deus, o retorno da consciência ao
seu próprio Self, o qual é a naturalidade final das coisas, é o propósito do
universo. Podemos dizer que esta estrutura física ao nosso redor é um plano dentre
outros de densidade específica. Não significa, entretanto, que existam muitos
universos, mas apenas muitos graus de densidade por meio dos quais o próprio
universo se revela à experiência. O universo é uma vibração, e não um amontoado
de coisas, pessoas e objetos. Em última análise, o universo não existe na forma
como se apresenta aos nossos olhos, porque finalmente no estado de samādhi ele desaparece como um sonho.
Todo o
universo é uma completude integrada. Tudo está conectado com tudo que existe.
Um pequeno grão de areia no banco do Ganges está conectado com as estrelas no
céu e com o próprio sistema solar. O processo da morte é uma transição e não a
destruição. O processo de crescimento numa pessoa é imperceptível; nunca
percebemos que estamos mudando. Isto ocorre porque existe algo ao nosso redor
que não muda. Um pequeno evento aparentemente é um evento cósmico; ele pode ser
insignificante, algo sem significado, como um espirro por exemplo. Mas ele não
é tão insignificante como aparenta na superfície. Todo o universo está desperto
no nascimento de cada evento. Esta é a razão porque dizemos que não existe algo
como um mistério neste mundo. Existe um universo que não se esgota pela
sociedade humana, ainda que este mundo de natureza e seus rios, montanhas e o
sistema solar não sejam insignificantes. De você se espera que colabore e coopere
com o mundo da Natureza in tão eficiente como você executa seu ofício em relação
a si mesmo e a sociedade humana. O fato é que a essência de tudo é imortal, não
há necessidade de se cogitar em ter medo de tal coisa como morte. Não somos
punidos pela morte – somos apelas educados por ela.
Todo o universo trabalha sem nenhum sentido de individualidade dentro de si mesmo. É duvidoso se o universo está ciente que existimos como peças isoladas. Os tão conhecidos esforços individuais são partes integrantes do esforço do cosmos em direção à realização de seu grande propósito. Entretanto, a intensidade do sentimento do ego é o obstáculo. Desejo, raiva, cobiça, etc., são vários modus operandi do ego do indivíduo. O Infinito está convocando o Infinito em cada ato do desejo, em todo processo de percepção sensorial e o que pedimos mesmo nas nossas menores ações e desejos é o Self universal, e nada menos que isso. As forças sensoriais e racionais impelem elas próprias externamente na direção dos objetos de percepção e indulgência, mas a força universal de integração do Self dirige o espírito na direção do Absoluto. Em cada pedaço de relativo ou particular, o universal é imanente, e o reconhecimento desta universalidade em cada particularidade é a sabedoria da vida. O ponto que o Upanishad estabelece é que nenhum evento ou experiência pode estar isolada de outras experiências. Então o que produz uma criança não é o pai ou a mãe. É todo o cosmo que produz a criança. Não existe tal coisa como um ato individual neste mundo.
Existe uma
total atividade, numa forma sutil, tomando lugar antes da aparentemente expressão
individual dela na forma de experiência de percepção. Por causa da inversão que
tomou lugar em nossa separação do Supremo, o que está no interior se apresenta
como estando no exterior. O universo e o mundo não estão no nosso exterior; é
impossível que a natureza das coisas possa ser externa à consciência. A
realidade é que o mundo não está no nosso exterior. Tudo está interconectado,
interligado de uma maneira orgânica, de forma que tudo se torna tão importante quanto
o outro. Enquanto a incapacidade de sondar a subjetividade do universo externo
nos impede de conhecer tudo no universo, existe uma possibilidade de mergulhar
no nosso próprio Self e conhecer todas as coisas de um só golpe.
(Extraído de sivanandaonline.org. - Tradução livre do inglês)
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