Qual
é o centro do problema espiritual da alma individual sobre este plano terreno,
que está em um estado de escravidão limitada à uma consciência individual? É
importante tentar compreender ou chegar à essência deste problema metafísico da
alma aprisionada numa estrutura feita de carne e ossos, presa numa rede de
pensamentos constantes e incessantes. Estes constituem uma malha interior na
qual somos capturados e mantidos firmemente, pois a identificação com as
dimensões psicofísicas de nossa personalidade é tão total, que se tornou
normal. Tornou-se a única consciência que conhecemos. Tornou-se nossa condição
natural, embora a psicologia védica a descrevesse como anormal. Ela é uma
aberração.
Swami
Vivekananda, tentando fazer sua plateia ocidental compreender este sutil ponto
metafísico indicou há cem anos atrás, utilizando o termo “des-hipnose.” Quando
eles sugerem que afirmações da Vedanta como “eu sou o Atman, sou imortal, sou
sem nome e forma,” fosse apenas uma
forma de auto hipnose, ele respondia: “Pelo contrário, temos sido hipnotizados pelo
pensamento, “eu sou este corpo, sou um ser humano, sou fulano e beltrano,
pertenço a este família e país.” O que a Vedanta pretende fazer é des-hipnotizá-lo
da condição de hipnotizado que você se tornou nascimento pós nascimento de errôneo
pensar.”
Logo
isto é o que temos que passar através de um processo tentando descobrir o que é
isto no qual caímos através de eras de errôneo pensar. A Vedanta aponta esta
condição como um estado de identificação com aquilo que não somos, um completo movimento
para fora do centro da consciência natural do que somos. Afastando, esquecendo completamente e
tornando-se desconectado, como se fosse, da consciência do que realmente somos,
como se entrássemos num estado de consciência identificando-nos e pensando ser
algo que não somos. Somos espíritos imortais, mas pensamos que somos pessoas
sujeitas a nascimento e morte, um início e um fim. Então, a Vedanta
precisamente aponta nossa condição neste estado de esquecimento de nossa
verdadeira natureza estando totalmente apanhados pela identificação com a consciência
da personalidade que não é nossa verdadeira consciência.
Fora
desta errônea identificação surge um falso sentido do ego, e somos mantidos
escravos nesta errônea consciência dominada pelo ego e totalmente permeado pelo
egoísmo, o que leva-nos a uma vida centrada em si mesmo. Esta é a doença atual,
e esta condição parece ser nossa real condição, mas de fato ela é uma condição
doentia. Ela é a doença da transmigração. A escravidão da vida terrena não está
no seu exterior. Ela não é feita de outra coisa além do seu próprio eu. Ela não
é o mundo exterior percebido pelos cinco sentidos que constitui samsara. Ela é este estado interior de
tornar-se completamente privado de nossa verdadeira consciência e escravizado
por uma errônea consciência dominada por um falso ego. É ainda mais complicada
pelo egoísmo que é o resultado natural dos apegos a tantas coisas.
É
essa errada consciência de nós mesmos, essa vida egocêntrica que é a causa raiz
de todo choque e conflito com os outros, desarmonia, discórdia, suspeita e
raiva. Tudo o que é negativo provém desse estado básico que liga, não de
quaisquer fatores externos, mas de dentro. Portanto, o primeiro processo é de
alguma forma perceber claramente isso, porque enquanto você não perceber
claramente isso e aceitar honestamente este seu estado, a libertação estará
longe, muito longe. É apenas uma fantasia, um vapor de imaginação. Devemos
perceber claramente esse estado, e devemos ser honestos o bastante para admitir
essa verdade dolorosa sobre o estado interno real de nossa consciência. Não é
lisonjeiro, mas a menos que haja honestidade sobre si mesmo, não podemos entrar
na vida espiritual, mesmo sabendo tudo sobre Vedanta, pois a vida espiritual
tem duas dimensões: uma é a doutrina Vedanta da experiência derradeira, mas a
outra é a atividade mundana. A menos que a Vedanta seja convertida à atividade
mundana, ela será apenas um fardo para nós.
A filosofia será inútil
a menos que seja trazida ao nível da prática, e tome a forma de sadhana na vida diária - em sua
atividade diária, pensamento e sentimento, reação às coisas ao seu redor, e seu
relacionamento com outras pessoas com quem você tem que viver. O próprio Deus
providenciou isso para que a doutrina possa ser aplicada, para que possamos
começar a nos mover para a experiência da Verdade. A menos que compreendamos que
nossa posição no samsara seja assim,
a menos que a vejamos como um ginásio no qual exercitamos e fortalecemos nossos
músculos espirituais internos, seremos os perdedores. Estaremos sempre num
campo maravilhoso, contudo não poderemos aproveitá-lo, porque pensaremos que a sadhana é em algum lugar em uma floresta
ou dentro de uma caverna. É dentro de uma caverna, mas essa caverna está dentro
de nós! Devemos ver muito claramente que ela está aqui; ela está na forma com
que temos que evoluir. Se deixarmos de reconhecer esta oportunidade e perdermos
o que Deus nos deu, então somos perdedores. Cada momento, cada dia que amanhece
é uma grande chance e uma oportunidade dada. O campo é imediatamente reaberto
de novo para que você possa exercer a prática Vedanta, para você colocar a
filosofia em prática. Isso constitui a prática da vida espiritual. É o aspecto
prático do Yoga e da Vedanta.
(Texto extraído
e traduzido do site sivanandaonline.org)
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