quinta-feira, 4 de maio de 2017

29. O Reino dos 10.000 Despertares


Tempos atrás, havia um escritor que viajava com frequência a Índia e que uma vez veio visitar o Ashram. O título de um de seus livros era “A Terra de 10.000 Budas”. Um título significativo! Sabemos de apenas um Buda, o único histórico "Despertado", que fez seu advento há mais de 2.500 anos. Ele nasceu em uma família real, cresceu em luxo, se casou com uma bela princesa e tiveram um menino. Não se podia imaginar uma vida mais idílica. No entanto, lentamente, um despertar surgiu em seu coração e mente. Ele teve visões que o colocaram pensando profundamente na vida e no que ela representa. Todo o seu ser foi incendiado por esta luz de despertar, enquanto ele ponderava profundamente o que tinha visto e o que ele tinha sido capaz de sentir e entender. O momento de virada lançou-o num vasto reino numa busca ao desconhecido. Da comodidade do luxo real, ele foi para a floresta em busca de algo que o levaria além da tristeza. O caminho deveria levá-lo à bem-aventurança suprema onde a tristeza deixaria de existir. Pois ele viu este mundo como uma bola de fogo quente dentro e por fora. Ele percebeu que não existe um pingo de felicidade aqui. É um lugar de inveja, ciúme, ego, raiva, frustração, ódio e uma centena desses estados.

Tais estados psicológicos atormentam o Ser que, na verdade, está supremamente acima e além desses estados, intocado por qualquer condição psicológica, a Realidade imutável que é a grande quietude, a grande paz. Aquele Ser afastou-se dessa experiência e envolveu-se em coisas que acontecem numa parte muito, muito mais profunda da personalidade humana. O indivíduo afasta-se do seu centro e se enreda no não-Eu. Sankaracharya descreve esse processo em sua grande e inspirada obra, Vivekachudamani. Ao descer para um estado de identificação com o não-Ser, em vez de permanecer sempre em seu próprio Ser, a consciência entra num plano inferior devido à ilusão, devido à falta de discriminação correta, devido à falta de distinção entre o eterno e o não-eterno. Devido a esse equívoco original, esse pecado original de nos identificarmos com o não-Eu e de nos envolver neste universo de "coisas", nos permitimos nos sujeitar às aflições que surgem desse ego inexistente. O ego, que não é nada, parece ser tudo por causa do poder que lhe é dado pela nossa identificação com ele.

Nós, devido ao nosso limitado pensar, criamos nossa personalidade humana, que nos foi dada como um instrumento para libertação, uma forma de escravidão ao identificarmos com o aspecto físico mais externo e não nos aprofundando no interior como o príncipe real, Siddharta, fez quando ele veio a perceber que tudo é vaidade, efêmero, fugaz e transitório. Ele deu um grande passo. Ele foi atacado por muitos problemas e tentações, mas assim como a agulha magnética da bússola do marinheiro sempre aponta para o norte na calmaria e na tempestade, igualmente ele manteve sua mente sempre fixa na meta. Mesmo assim, se dentro de nossa personalidade humana você sempre permanecer na Realidade, então não haverá escravidão para você. Você estará em estado de libertação, embora em aparente escravidão.

Este processo é gradual e tem que ser iniciado e mantido. Pois o reino espiritual é um reino de 10.000 despertares. Como os velhos padrões de pensamento estão tão profundamente enraizados e como constantemente atraem de volta o sono da não-consciência, é preciso manter o contra processo em contínuos e ininterruptos despertares sempre repetidos, saindo e tomando consciência do sol deslumbrante da sempre presente Realidade, a Verdade que sempre prevalece como o único fato glorioso do universo. Não há escravidão. A libertação é o único estado que é real. Ele está eternamente presente em todos os lugares dentro e fora, em cada átomo. Em toda parte, apenas a libertação está presente, somente a iluminação está presente, aquele grande estado de perfeição, o grande estado de consciência divina perfeita e tranquila está presente. Isso é Brahman, que é o Tao, e que é infinito e presente em toda parte. Qualquer outra coisa pode estar oculta, ser declarada irreal. Mas isso é impossível de ser invocado pela mente finita. É o único fato; É o alicerce da existência. O despertar, a consciência, a perfeição, a felicidade, a alegria, a bem-aventurança, é o único fato inalterável da existência, e nEla, o indivíduo tem que manter-se desperto. Então, saibamos que estamos vivendo em um reino de 10.000 despertares. Pois é isso que constitui espiritualidade. Isso é o que a espiritualidade é de fato. Isso é o que a vida espiritual deverá ser para alguém que alcança sua bem-aventurança suprema agora. Despertar é a verdade. Despertar é a que você se destina. É uma experiência sempre presente e está no interior e no exterior. Afortunados são vocês a quem foram dadas a mais completa oportunidade para tornar este potencial evidente e para torná-lo manifesto como sua própria experiência.


(Extraído de sivanandaonline.org – tradução livre)

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