PRAZER
E DOR
Por
Sri Swami Sivananda
Introdução
Prazer é um estado mental
específico. É um tipo de satisfação. Raga
(atração) causa prazer. Dvesha
(repulsão) causa dor. A mente se expande num momento de prazer. Se contrai num
momento de dor. Ambos são apenas estados relativos da mente. Realmente prazer e
dor não possuem existência duradoura. O que de fato significa prazer para um
homem pode significar dor para outro. O que é prazer para um homem num
determinado momento pode ser dor para o mesmo homem em outro momento. Os dois
copos de leite iniciais dão algum prazer. O terceiro copo induz à aversão, e o
quarto copo pode causar náusea e ânsia de vômito. Não existe verdadeiro e
duradouro prazer nos objetos do mundo.
Dor e prazer não são duas
entidades separadas por si mesmas. Elas são o verso e o reverso dos lados da
mesma moeda. A diferença não está no tipo mas na aplicação. É um par de
opostos, cada um interagindo diferentemente. Ambos, prazer e dor, são
subjetivos. Ambos podem ser mentalmente convertidos por meio de uma vontade
forte, pela mudança em sua Bhavana ou
atitude mental. Muitos estudantes vegetarianos na Índia, que vão ao exterior
para níveis maiores ou estudos especiais, tornam-se ávidos comedores de carne.
A carne era repulsiva a eles quando estavam em suas casas. A mera visão da
carne poderia induzi-los ao desgosto. Como é que agora eles passaram a apreciar
carne com avidez? Tudo isto ocorre pela simples mudança de atitude na forma de
pensar causada por influências externas.
Cultivo
das Emoções
Existe oscilação no prazer e
na dor. Não existe onda contínua de prazer e de dor na mente. Se existisse uma
onda contínua de dor, o homem não seria capaz de viver nem mesmo por poucos
dias. A mente não é capaz de sempre lidar com dor ou prazer. É uma benção. Se
você mantiver constante medo da morte, então você poderá realmente morrer num
curto espaço de tempo. Os variados objetos do mundo atuam como agentes
desviantes para a mente.
Entre todos os prazeres de
vários tipos, medo, presságio, cautela e preocupação arruínam sua felicidade e
lhe causam dor. Existe uma onda de prazer por cinco minutos, e então é seguida
por uma onda de dor pelos próximos cinco minutos. Este ritmo continua por toda
a vida do homem. Observe atentamente seus sentimentos através da introspecção.
Você verá que eles são uma mistura de emoções confusas. Por isso, na vida
espiritual, cultivo de emoções constitui uma Sadhana vital. O homem que não
possui controle de suas emoções é como uma folha seca agitada pelos caprichos
da mente. Aqui o autocontrole e a sublimação desempenham um papel eficaz.
Pequenas exaltações podem fazer com que você perca a cabeça. Pequenos
sentimentos de depressão, causados por pequenas coisas, não devem partir seu
coração.
Errônea
Identificação
A maioria dos sofrimentos
mentais são causados pela ignorância. Isto é devido à identificação com a
personalidade psico-mental do homem e apego ao corpo para aqueles que se
associam a ele. Quando esta errônea noção desaparece, você conquista a
liberdade do sofrimento mental, ao identificar a si mesmo com a Realidade sem
nome e sem forma. Sofrimento mental é somente ignorância. No estado de sono
profundo, você não experimenta nenhuma dor. É porque você não está consciente
de sua identidade com seu corpo, nesse estado. Quando o filho de outro homem
morre, você não se aflige. É porque não existe identificação de sua
personalidade com aquela do filho do outro homem.
A dor é causada pela injeção
de emoções negativas no cérebro. Ausência de luz é escuridão. Escuridão não é
uma entidade real. Escuridão é uma existência negativa. Então, também, Maya
possui uma existência negativa. Quando surge a luz, a escuridão desaparece. De
igual forma, quando o conhecimento surge, Maya desaparece. Ausência de prazer é
dor.
Prazer é o ventre da dor. Os
prazeres que nascem do contato com os objetos são verdadeiramente ventres de
dor. Eles possuem um começo e um fim. O verdadeiro sábio não se alegra nos
prazeres forjados pelos sentidos, nem se aflige por causa das misérias causadas
pelos fatores mundanos. Eles estão enraizados na consciência de sua fonte
espiritual, que é desprovida de prazer e dor, mas é plena de felicidade
supernatural.
Pares
de Opostos
Você nunca poderá adquirir
felicidade absoluta num plano físico relativo constituído de pares de opostos.
Os pares de opostos giram num mesmo eixo. A morte é seguida pela vida. A noite
segue o dia. A luz segue a escuridão. A dor segue o prazer. Se você realmente
deseja Deus, você tem que elevar-se acima de todos os objetos de sensações
prazerosas, e evitar o desejo por eles. Se você realmente quer Deus, você deve
crucificar os desejos da carne. Você não pode ter Deus e desfrute sensual ao
mesmo tempo. São somente os hipócritas e fracos, incapazes de desistirem do
apego aos objetos do mundo, que pensam que podem realizar Deus levando uma vida
mundana e fazendo um tipo superficial de Sadhana por alguns minutos todos os
dias. A Realização de Deus não é tão fácil assim.
A felicidade surge com a paz
da mente. Paz da mente vem de um estado mental onde não existe desejos
mundanos, pensamentos de objetos de desfrute. Você esqueceria todas as ideias
de sensação de prazer antes de entrar no verdadeiro domínio da paz. A
felicidade está em Sattva. Felicidade
está também além de Sattva. A
felicidade está no Atman. Ela está na
meditação. Ela está no estudo dos Upanishads.
O melhor método para livrar-se
do sofrimento mental é através da força de vontade para dissociar a
identificação do corpo, através do desvio da mente, ou a sua retirada da
personalidade individual e fixando-a no ilimitado, sem atributos, sem nome, sem
forma, sem desejos, eterno Atman, a fonte da verdadeira e eterna felicidade,
algo que jamais é conhecido neste mundo de limitação. Tattvamasi - Tú És Aquilo