segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Mahasivaratri

A Mensagem do Mahasivaratri

Mahasivaratri é um dos dias sagrados que meu guru, Swami Sivananda observava com grande intensidade e devoção.

Há numerosas estórias em nossos mitos e lendas que ilustram a crença pupular que o Senhor Siva se safisfaz até mesmo com uma “devoção” por acaso e acidental. O significado é óbvio: quanto mais gloriosa é a devoção que brota da sabedoria e da compreensão!

O Mahasivaratri nos aproxima como co-peregrinos e nos provê com o sabor da beleza da sensação de estarmos juntos. Mesmo assim somos peregrinos no mundo; estamos todos seguindo para o mesmo destino. O espírito de estarmos unidos na peregrinação ilumina nosso caminho, alivia nossa carga e ilumina nosso entendimento.

O Senhor Siva geralmente é retratado como o meditador supremo. “Sivam” é auspiciosidade, prosperidade, bem-estar. Esta corrente, não de atividade febril, mas de fervente meditação. Siva é também o maior exemplo de total renúncia. Sorte humana, paz e felicidade (nos níveis individual e coletivo) fluem da renúncia e não da aquisição. Isto serão apenas palavras até que o indivíduo experiencie-as como verdades vivas, até que o indivíduo prove a liberdade que flui da renúncia, e a paz e felicidade que fluem da graça divina. Esta é a finalidade da peregrinação.

Durante a peregrinação as pessoas se ajudam umas as outras, servem umas as outras amavelmente para a graça de Deus. Como co-peregrinos, brevemente compreende-remos que a felicidade é compartilhar, que felicidade é para quem doa. Tudo isso é impossível se não existe espírito de renúncia.

Aprendemos todas essas lições durante o Mahasivaratri. Quando provamos a doçura a autodisciplina, torna-se natural para nós. Disciplina imposta é imposição, não disciplina e ela somente faz nascer impostores. Se você observa Mahasivaratri com fé e devoção porque deixou o cigarro, a bebida e outros hábitos nocivos apenas por um dia, e se você provar a felicidade de tal autodisciplina, então a mente naturalmente buscará tal vida de disciplina.

Apenas um homem disciplinado na paz pode promover a paz e o bem estar humano. Senhor Siva é o arquétipo desse tipo de pessoa. O Mahasivaratri é o surgimento de tal pessoa em você.



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sábado, 18 de fevereiro de 2012



Yoga Sutras de Patanjali - Livro I - Verso 33
Sri Swami Satchidananda*



No cultivar atitudes de amabilidade em relação aos felizes, compaixão ante os infelizes, deleite junto aos virtuosos e indiferença quanto aos perversos, a substância da mente conserva sua tranquilidade imperturbada.

Maitri = amabilidade; karuna = compaixão; mudita = deleite; upekshanam = indiferença; sukha = feliz; duhkha = infeliz; punya = virtuoso; apunya = perverso; vishayanam = no caso de; bhavanatah = ao cultivar atitudes; chitta = substância da mente; prasadanam = tranquilidade imperturbada.

Quer esteja interessado em alcançar o samadhi ou planeje ignorar Yoga inteiramente, eu o aconselharia a lembrar-se pelo menos deste único Sutra. Será de grande ajuda para conservar a mente em paz em sua vida diária. Você pode não ter qualquer grande meta em sua vida, porém tente seguir com diligência só este único Sutra e verá sua eficácia. Em minha própria experiência, este Sutra tornou-se a lanterna que me levou a sempre conservar a mente serena.

Quem não gostaria de serenidade mental, sempre? Quem não gostaria de ser feliz, sempre? Todos querem isto. Assim, Patanjali dá quatro chaves: amabilidade, compaixão, deleite e indiferença. Só há quatro fechaduras no mundo. Guarde sempre estas quatro chaves com você, e quando deparar com qualquer uma destas fechaduras terá a chave apropriada para abri-la.

Que são estas quatro fechaduras? Sukha, duhkha, punya e apunya - as pessoas felizes, as pessoas infelizes, as virtuosas e as perversas. Em qualquer momento você pode enquadrar qualquer pessoa numa destas quatro categorias.

Quando encontrar uma pessoa feliz, use a chave “amabilidade”. Por que Patanjali diria isto? Porque mesmo há quatro mil anos atrás deve ter havido pessoas que não eram felizes ao verem outras felizes. Ainda é da mesma forma. Suponhamos que alguém vá dirigindo seu belo carro, estacione diante de uma mansão enorme, um verdadeiro palácio, e saia. Algumas pessoas estão de pé na calçada sob o sol quente sentido-se exaustas. Quantas destas pessoas estão felizes? Não muitas. Estarão dizendo: “Está vendo aquele carrão? Seu dono deve estar sugando o sangue dos trabalhadores”. Deparamo-nos com pessoas assim; são sempre invejosas. Quando alguém alcança nome, fama ou alta posição, tentam fazer-lhe críticas. “Oh, você não sabe? Seu irmão é isto e aquilo; deve ter havido algum tipo de proteção.” Jamais se admitirá que possa ter progredido pelo seu próprio mérito. Com esta inveja, você não perturbará a outra pessoa, perturbará sua própria serenidade. Ela simplesmente saiu do carro e entrou em casa, mas você está se queimando por dentro. Em vez disso, pense: “Oh, que pessoa de sorte. Se todos fossem assim, como seria feliz o mundo. Que a benção de Deus conceda a todos tal conforto. Eu também conseguirei isto algum dia.” Faça desta pessoa um amigo. Eis uma atitude que tem faltado em muitos casos, não apenas entre indivíduos, mas até mesmo entre nações. Quando alguma nação mostra prosperidade, o país vizinho sente inveja e quer arruinar sua economia. Por isto devemos ter sempre a chave da amabilidade quando vemos alguém feliz.

E a próxima fechadura, a pessoa infeliz? “Bem, Swami diz que cada um tem seu próprio karma; ele deve ter feito alguma coisa horrível em sua vida passada. Que sofra agora.” Esta não deve ser nossa atitude. É possível que ele esteja sofrendo em consequência de um mau karma anterior, mas devemos ter compaixão. Se puder estender a mão para ajudar, faça-o. Se puder dividir seu pão pela metade, divida-o. Mas seja sempre misericordioso. Assim agindo, você estará mantendo sempre a paz e equilibrio de sua mente. Lembre-se, nossa meta é conservar a serenidade de nossas mentes. Possa a nossa misericórdia ajudar ou não aquela pessoa, pelo nosso próprio sentimento de misericórdia, ao menos nós seremos ajudamos.

Vem então o terceiro tipo, o das pessoas virtuosas. Quando encontrar um homem virtuoso, sinta contentamento. “Oh, como ele é ótimo. Quero que seja meu herói. Eu deveria imitar suas grandes qualidades”. Não o inveje; não tente destruí-lo. Admire as qualidades virtuosas que existem nele e tente cultivá-las em sua própria vida.

E, por último, o perverso. Algumas vezes deparamo-nos com gente perversa. Não podemos negar isto. Assim, qual deve ser nossa atitude? Indiferença. “Bem, algumas pessoas são deste jeito. Provavelmente ontem eu estava assim. Agora não sou uma pessoa melhor? Amanhã provavelmente ela estará melhor”. Não tente aconselhar pessoas assim, porque gente perversa raramente aceita conselho. Se tentar aconselhá-la perderá sua paz.

Ainda me lembro de uma fábula do Pancha Tantra que me contaram quando criança. “Num dia chuvoso, um macaco sentado no galho de uma árvore estava ficando completamente encharcado. Exatamente no lado oposto, em outro galho da mesma árvore, havia um pequeno pardal sentado em seu ninho suspenso. O pardal normalmente constrói seu ninho na extremidade de um galho para que fique suspenso e balance suavemente com a brisa. Dentro dele há uma moradia agradável com um cômodo superior, uma sala de visitas, um quarto de dormir mais embaixo e até uma maternidade para o caso de dar à luz alguns filhotinhos. Ah, sim, você deveria ver e admirar alguma vez um ninho de pardal.

Assim, estava quente e aconchegante dentro do ninho; dando uma olhada lá fora, o pardal viu o pobre macaco e disse: “Oh, meu caro amigo, sou tão pequeno; nem mesmo tenho mãos como você, só um pequeno bico. Mas apenas com isto construí uma bela casa esperando por este dia chuvoso. Mesmo se a chuva continuar dias a fio, estarei aquecido aqui dentro. Ouvi Darwin dizer que você é o ancestral dos seres humanos, então por que não usa o seu cérebro? Construa uma pequena e bela choupana em algum lugar para abrigar-se durante a chuva”.

Você deveria ter visto a cara daquele macaco. Era terrível “Oh, seu diabinho! Como ousa tentar aconselhar-me! Está provocando só porque está quente e aconchegante dentro de seu ninho. Espere que eu lhe mostro onde você vai parar?” O macaco passou a arrebentar o ninho em pedaços e o pobre passarinho teve que voar para fora e ficar encharcado como o macaco”.

Eu era bem criança quando me contaram esta história e ainda me lembro dela. Algumas vezes deparamo-nos com tais macacos, e se você lhes der conselho tomam isto como insulto. Acham que você está orgulhoso de sua posição. Se você perceber, um pouco que seja, esta tendência em alguém, afaste-se. Seja ele ou ela, terá que aprender por experiência. Dando conselho a pessoas assim, você apenas perderá a paz de sua mente.

Há alguma outra categoria que você seja capaz de pensar? Patanjali agrupa todos os indivíduos nestas quatro: os felizes, os infelizes, os virtuosos e os perversos. Tenha então estas quatro atitudes: amabilidade, compaixão, contentamento e indiferença. Você deve ter sempre estas quatro chaves em seu bolso. Se usar a chave certa com a pessoa certa manterá sua paz. Nada no mundo poderá então perturbá-lo. Lembre-se, nossa meta é conservar a mente serena. Desde bem do princípio dos Sutras de Patanjali, estamos lembrando isto. E este Sutra muito nos ajudará.


*Discípulo de Swami Sivananda
(Extraído do livro Os Sutras do Yoga de Patanjali – Tradução e Comentários -
p. 55/57)