terça-feira, 4 de setembro de 2012

A MEDITAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA

Swami Chidananda*

 
A Meditação é o último processo quando o indivíduo coloca a fundação da vida espiritual, quando o indivíduo venceu a constante influência dos sentidos e tornou-se mestre de seus sentidos, quando através da discriminação e de verdadeira inquirição, o indivíduo percebeu o vazio absoluto de tudo que buscou, e, portanto, superou as tendências naturais da mente em direção às aparências e conseguiu se afastar completamente do desejo de nomes e formas e apego aos objetos e experiências, quando aprendeu as técnicas de retirar a mente das aparências exteriores, e quando o indivíduo passou a cultivar e a criar internamente um estado de equilíbrio e quietude. Na condição de se permanecer firmemente apoiado na virtude, em perfeito controle dos sentidos e autocontrole, na condição de conquistar os desejos e o domínio das próprias paixões, na condição de iluminação, na condição de estabilidade e equilíbrio interior, o indivíduo começa a recolher-se e mover-se para o conceito ou ideia do que sente da Realidade oposta às aparências. Isto – a concentração da totalidade do seu ser e a centralização deste poder concentrado numa direção específica escolhida – é o objeto da sua meditação, e a manutenção de um movimento contínuo e ininterrupto da totalidade concentrada nessa direção específica, de todo o seu ser. Assim concentrado e direcionado, quando o movimento ininterrupto é bem-sucedido, você encontra-se no estado de meditação.

Então isso é um movimento exitoso, contínuo, numa direção auto escolhida pela totalidadede do seu ser, centralizado numa unidade – um todo unificado – isto é chamado meditação. Todas as outras coisas são noções individuais particulares sobre meditação. Todas as outras coisas são apenas o que você pensa ser a meditação. Elas não são meditações. Meditação exige que o ser esteja perfeitamente assentado na virtude. Virtude quer dizer determinadas qualidades espirituais que são os pré-requisitos absolutamente indispensáveis para uma vida interior de meditação, sem a qual a meditação é impossível. Há certas qualidades espirituais, que são como os blocos de construção da estrutura, o que acabarão por atingir o auge da meditação. A Meditação é, por assim dizer, o cume da pirâmide, e esse cume não pode ser construído no ar. Ele é criado numa base ampla e em solo firme. A estrutura cresce e cresce e então você atinge aquele ponto onde existe somente um bloco - que é a meditação. E, portanto, é um processo que deve estar assentado na virtude. Virtude significa qualidades espirituais e por essas qualidades espirituais sobre as quais se insiste são muito simples de entender. Porque são as qualidades que o mantêm fora das forças de sua natureza que são a antítese direta da experiência Divina - fatores que são contradições diretas da experiência espiritual. Enquanto elas estiverem lá, não é possível ascender na experiência espiritual. Você não pode permanecer seco e molhado ao mesmo momento. E, para remover esses elementos só há um caminho. Ou seja, você tem que criar um forte movimento positivo em seu interior de forma que eles não mais existam. Eles não poderão permanecer, porque são apenas negações das forças positivas. Eles não possuem nenhuma identidade separada ou independente por si mesmos. Portanto, para superá-los, alguns fatores positivos devem ser criados em você. Esses fatores positivos são chamados de virtudes na falta de um termo melhor. São qualidades espirituais essenciais para manter fora de sua natureza os fatores que são diretamente contraditórios e a antítese da experiência que você está tentando alcançar.

Com base nisso, a meditação é um processo interior. Os sentidos têm sempre como principal tarefa manter toda sua psique numa condição exteriorizada. Essa é a natureza própria dos sentidos, e a menos que você saiba como controlar os seus sentidos, a psique nunca estará centralizada internamente. A interiorização da sua psique é absolutamente indispensável e necessária para a meditação. Assim, o controle dos sentidos surge como a próxima condição preliminar. Mas se a psique está num estado de constante eflorescência interior, então, mesmo obtendo êxito em unificá-la, você não pode iniciar este processo, pois isso exige um certo grau de quietude. Portanto, o próximo passo é acalmar a mente, seus desejos, paixões, as várias ambições, os constantes apegos e paixões que mantêm a mente sempre num estado de constante mudança e agitação. Eles precisam ser superados, e isso não ocorre num dia. Isto é um processo que leva tempo. Este processo para se atingir um certo nível de absoluta tranquilidade da mente leva muitos anos. Mesmo que demore anos, vale a pena. Não se deve ter impaciência na vida espiritua. Ela não pode ser praticada de forma apressada. Deve-se ter entusiasmo, enorme disposição – tremendo entusiasmo -, e ao mesmo tempo deve estar envolvida pela paciência. Então, esse estado de quietude só poderá acontecer se você for capaz de expulsar da sua mente os diversos desejos, apegos, ambições, planos e esquemas e o qualquer outra coisa. Todas estas coisas devem dar lugar a uma aspiração unificada. A mente deseja somente uma coisa. Internamente não se deve querer qualquer outra coisa. A eliminação total dos desejos é impossível. Fome, desejo por comida e bebida, desejo por vestuário e outros desejos em razão da própria imediaticidade na vida são tão prementes que não há como você se livrar deles. Um pai terá planos para seu filho, mas todos os desejos misturados devem estar completamente fora juntamente com todas as ambições e planejamentos, e deve existir uma aspiração unificada, o que significa que, em geral, a ênfase predominante máxima em sua mente deverá estar no objetivo final. A mente fica relativamente unificada, embora poderá existir em sua periferia alguns desses desejos inevitáveis da vida imediata em sua vida. Num nível alto, ela estará unificada, e quando estiver assim estiver, toda dispersão irá embora. Não haverá outras ambições, outros desejos, outros apegos, outras paixões e desejos. A mente estará num estado de total integração e unidade. Em sânscrito chamamos isso de Ekagrata.

Ekagrata significa atingir um estado no qual a mente encontra-se focada. Esta mente sozinha, que agora sutilmente se rende desistindo da experiência sensorial grosseira, eliminando totalmente os desejos sensuais grosseiros, e pela renúncia, atinge um estado de pureza. Veja, a mente também é matéria. É feita de matéria muito sutil em comparação com a matéria física. Comparada ao Espírito ela é também matéria. Quando preenchida com tendências terrenas, paixões e ambições, ela fica repleta de Tamas e Rajas, ou seja, ela fica muito próxima da presença da qualidade de inércia e torna-se ainda mais grosseira devido à presença da inquietação, desejos egoístas e atividades. Quando estes foram transcendidos e, até certo ponto dominados, então a mente atinge um estado de pureza e sutileza. Ambos são intercambiáveis. E nesse estado de pureza sutil, a mente assume um sentido ascendente. Até que este estado de pureza sutil surja na mente, a mente não pode assumir um sentido ascendente. Ela está sempre na horizontal em sua dinâmica.

Ela assumirá um estado em sentido ascendente somente após atingir um estado de sutileza e pureza. Somente a mente, purificada, sutilizada por absoluta pureza e virtude, autocontrole e eliminação dos desejos e paixões, é capaz de se tornar um instrumento capaz de pensar no Atman - a Realidade. Normalmente a mente comum encontra-se num estado grosseiro, incapaz de pensar no Atman - a Verdade ou a Realidade. Ela só se torna capaz de pensar no Atman, portanto, ao se tornar pura e sutil. É possível uma mente assim estar envolvida na meditação. A menos que você adquira esse estado mental, você não pode engrenar na meditação. Pensar que você esteja meditando é apenas um pensamento em sua mente.

Você pode estar sentado ereto e pensar que está meditando. Você está fazendo algo com a mente, mas isto não é meditação. A meditação exige uma mente diferente. A mente exteriorizada, a mente objetiva, a mente com desejos e ambições, essa mente não pode estar realmente meditando. Sim, pode estar tentando se concentrar e fazer alguns exercícios e passando por treinamento valioso, um processo valioso de disciplina. Isto não é completamente inútil. Isto sempre preparará a mente de certa forma, mas no final das contas esta total transformação em seu interior, trazer a mente num estado de sutileza e pureza, é absolutamente necessário para iniciar o processo interno da meditação, porque esse é o instrumento. Uma mente pura e sutil, completamente imóvel e calma e totalmente interiorizada, - que é o instrumento para a meditação. Apenas com a mente assim é possível realmente meditar.

*Discípulo de Gurudev
Extraído do Livro Guidelines to Ilumination
Tradução livre

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