13. O Aparente Mundo dos Objetos
As
coisas não são o que elas aparentam ser, e nada é o que parece ser. A história
é uma prova da impossibilidade definitiva de se confiar em algo que é feito
visível aos olhos. O conhecimento filosófico é o despertar de uma nova luz do
interior, que ajuda o indivíduo a iluminar os cantos escuros da terra, e
tenta ver as coisas em suas cores
verdadeiras, ao invés do seu aspecto camaleônico – como formas e aparências.
O
universo é feito mais do que é oculto, coisas invisíveis do que se possa
conceber. Não é meramente o que se apresenta aos olhos. Há um mistério por trás
a ser revelado. Sempre se imagina que a felicidade vem das coisas do exterior,
dos objetos do sentido. Isto não é verdade. Este fato deve sempre se ter em
mente. Nossas satisfações não surgem do apego aos objetos. Por outro lado,
alegrias resultam da harmonia com as coisas. Quanto mais o homem encontra-se em
harmonia com o mundo exterior, igualmente, sem qualquer pressão excessiva
exercida sobre nenhuma parte, mais ele estará feliz. O conhecimento obtido por
meio dos sentidos, obtido por meio da percepção, está limitado à estrutura dos
órgãos dos sentidos. Se os órgãos fossem constituídos de uma forma diferente, o
quadro que eles poderiam apresentar seria uma coisa completamente diferente.
Nos
confundimos com esses cinco sentidos em tudo. Existem outros elementos no
objeto que os sentidos não são capazes de contatar. Suponhamos que tivéssemos mil
sentidos, poderíamos ver muitas outras coisas no mundo. É evidente que poderia
ser fútil depender dos órgãos dos sentidos para obter o correto conhecimento.
Nenhum deles poderia ser totalmente confiável, porque estariam limitados. Nada
pode ser conhecido examinando-se os objetos por meio das ações relativas dos
sentidos que mudam de acordo com a estrutura espaço-temporal dentro da qual
eles podem atuar.
Se
o homem vivesse numa ordem espaço-tempo diferente, ele certamente não seria um
ser humano como é agora. Se espaço e tempo não estivessem lá para distinguir um
objeto do outro, absolutamente não seriam conhecidas aquelas coisas que
existem. A influência condicionante do espaço e tempo é tal que nada poder ser
conhecido exceto como algo presente no tempo e espaço.
A
percepção não é um conhecimento imparcial das coisas. Ela está altamente
condicionada a forma de olhar as coisas, e o homem não vê as coisas como elas
realmente são. Vivemos num mundo de aparência. O homem está totalmente errado
em acreditar que ele está num mundo de realidade. Não há nada realmente real
neste mundo, e mesmo se existisse algo real, em algum lugar, ninguém sabe.
Todos estão num mundo que não é nada além de um fenômeno. A realidade, que o
filósofo Kant chama a “A coisa em si”, não pode ser conhecida. Ninguém pode vê-la,
porque ela não é um objeto do pensamento ou dos sentidos,
Os
objetos devem estar dissociados de seus nomes e considerados, como seriam se
não fossem caracterizados pelo nome. Não chame a árvore de uma árvore. Descondicione
sua mente a entrar no conceito da forma da árvore sem que ela traga o nome ou a
palavra “árvore”.
A
psicologia do Budismo nos diz que a vida é um sucessivo fluxo de conexões
momentâneas que estão realmente não conectadas uma das outras, mas que possui a
aparência de uma continuidade. Então, o mundo não é feito de nenhuma
continuidade de objetos. Ele é feito de uma ligação momentânea de forças.
Mestres
como Buda consideram a vida um processo de transitoriedade. Eles nunca
consideraram o mundo como uma existência definitiva. Nada no mundo é. Tudo
passa. Tudo se move. Mesmo nossa consciência da existência do mundo é um
processo. Existe um perpétuo pedido por “mais” em nós.
Aparece
diante de nós como um objeto sólido como se fosse por causa de um tipo de
funcionamento momentâneo mental, embora o objeto não exista realmente como
percebido pelos sentidos. Então, o conhecimento intelectual não pode ser tido
como conhecimento verdadeiro.
É
o apego às coisas que está a ser objeto de renúncia, e não as coisas como tal.
Basicamente, é uma ausência do gosto pelas coisas, que é chamado renúncia, e
não a ausência da proximidade física dos objetos.
Quando
amamos algo ou odiamos, não compreendemos realmente aquela coisa. O sofrimento
advém a si mesmo devido ao amor e ódio pelas coisas. Estamos perpetuamente
inquietos, porque gostamos de alguma coisa e odiamos outra.
O
gosto pelas coisas e o desejo pelos objetos são sublimados numa percepção
superior. Nossos problemas são nossos desejos, não a existência dos objetos,
porque as coisas sempre estarão lá. O desejo cessa, quando existe uma ausência
de gosto pelas coisas vistas ou ouvidas ou pensadas pela mente. Isto é trazido
pelo reconhecimento da verdadeira circunstância de todas as coisas e seu
inter-relacionamento com todo o universo. Definitivamente o universo não é
feito de substâncias, mas de desejos. Quanto mais pensamos nos objetos em nosso
exterior, mais fracos nos tornamos em nossa personalidade. Porém, quanto mais
formos capazes de refrearmos o estímulo dos sentidos e a mente de contemplar as
coisas no nosso exterior, mais energia conservamos e maior força teremos.
Um
gosto implica um desgosto, e um desgosto implica um gosto – eles não são
realmente duas atividades diferentes da mente. É uma perspectiva, uma atitude
que mostra características de uma dupla atitude. Quando algo realmente existe,
ela não pode ser chamada um fenômeno ou uma coisa passageira. Uma coisa real
não pode morrer, e aquilo que morre não pode ser chamado real. Então, aquilo que
é, aquilo que é real, não pode ser considerado destrutível.
Se
nos coordenamos e cooperamos com a atividade da Natureza, isto torna-se um
sacrifício, mas se interferirmos com ela e adversamente afetar seu
funcionamento normal, ela também estabelecerá uma reação de forma similar.
Então, seremos os perdedores. Se você circula com veemência uma tocha, você
descobrirá que existe um círculo de fogo a sua frente. Não existe nenhum
círculo na verdade. É apenas a ilusão de ótica criada devido a intensa
velocidade do movimento da tocha. Então uma vibração da consciência é uma forma
particular de tornar-se perceptível como um objeto.
Você sabe muito bem que a forma de um
cajado é diferente de uma mesa, mas do ponto de vista da substância, ambos são
feitos da mesma madeira. Então, o conhecimento do cajado poderia implicar
também no conhecimento da mesa, independentemente de suas diferenças
estruturais. De forma similar, a regra pode ser aplicada a tudo no mundo. O
Upanishad assinala que todas as coisas no mundo são permutações e combinações
de elementos originais. Temos de ser convencidos no fundo de nosso ser que os
objetos não estão colocados externamente no espaço e no tempo. Se eles não
estão fora de nós, a coisa toda cai num só golpe. Esta é a verdadeira renúncia.
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