terça-feira, 26 de julho de 2016



14. Yoga

A razão por trás da exigência de se atingir uma harmonia na prática do yoga é que o mundo é uma harmonia, o universo é uma harmonia, Deus é harmonia, o Absoluto é harmonia, e estar em sintonia com isso em todos os aspectos é Yoga.

Enquanto por alguns anos durante a vida do indivíduo possa ser levada na disciplina yógica, o indivíduo lentamente perceberá que não possui outro propósito neste mundo. Todas as nossas bem-intencionadas ocupações na vida são pequenos gritos de anseios do desejo central do espírito por liberdade sem limites.

O estudante de Yoga é capaz de receber todos os golpes do mundo, porque estes não são vistos como reações vindas contra a personalidade dele. Quando você modifica a si mesmo interiormente, o mundo irá corresponder à própria mudança no que diz respeito a você.

Yoga nos ensina como alcançar a eterna felicidade nos colocando em equilíbrio permanentemente, enquanto os objetos externos nos dão apenas um prazer temporário. Yoga é um esforço independente desconectado dos objetos transitórios. Yoga traz felicidade mesmo sem pessoas ou coisas ao seu redor, mesmo quando você está sozinho.
 
Você não aprenderá uma lição melhor do que através da experiência da natureza transitória das coisas. Quando você perde todos seus pertences, quando sua vida está em jogo, você aprende uma lição melhor do que aprenderia em universidades. A natureza transitória das coisas aponta para a existência de um valor eterno na vida.

As tentações estão uniformemente presentes no caminho da Yoga, mas as formas como elas surgem varia de indivíduo para indivíduo, então o enfrento não será o mesmo que você tem que enfrentar. Você não sabe o que ocorrerá com você amanhã.
A personalidade do homem individual é profunda, muito mais profunda do que aparenta na superfície. Afastar a si mesmo do contato físico com os objetos dos sentidos não significa renúncia, totalmente. Se você abstém do contato físico com objetos vivendo num lugar isolado, o desejo por eles ainda continuará.

Os desejos do ser humano estão profundamente enraizados abaixo do nível consciente. Então, mesmo que você conscientemente esteja livre dos desejos, você não está livre deles inconscientemente. As sementes subconscientes de um anseio por gratificação sensorial criam reações em contrapartida do cosmos exterior e surgem como tentações.

Quando você trilha o caminho do Yoga, a primeira coisa que você encara ou encontra é uma tentação da qual você não é capaz de resistir. Ninguém pode resistir à tentações, porque tentações não surgem como tentações. O diabo não surge na forma de um diabo; caso contrário você o reconheceria. A ilusão pode ser confundida com realização. Esta é a razão porque, podemos assim dizer, um guru é necessário.

Do externo, você vai para o interior, e então para o Universal. Você torna-se cosmicamente ciente das coisas. Não pense que quando um Yogi aspira apenas por Liberação, ele seja um indigente no mundo. Não é. Ele é rico tanto material quanto fisicamente. Ele está vivo para todo significado da vida. Muitas pessoas tornam- se "ninguém" quando elas se aposentam de seus ofícios. Ninguém as deseja depois, porque não criaram substância própria. Por outro lado, a prática espiritual, ou Sadhana, dá a pessoa um valor intrínseco. Sadhana faz com que a pessoa sinta algo mesmo que ninguém olhe para seu rosto. A felicidade do indivíduo, então, não conhece fronteiras, mesmo que e mundo não o deseje mais. Você não depende disso.

Sutil é o caminho do Yoga, difícil é este caminho, e difícil é entrar na cidadela deste misterioso objetivo. Ele é invisível, e por isso duro em cada sentido do termo. Se você puder ver o caminho, você poderá caminhar nele, mas você não é capaz de ver o caminho do Yoga. Você não pode ver a trilha dos pássaros no céu, embora eles possuam a sua própria trilha. Então é com o caminho do conhecimento. Ele não pode ser visto, embora esteja lá. É difícil conhecer para onde o indivíduo está sendo levado, pois não existe caminho para ele.
 
Qualquer distúrbio de qualquer tipo em qualquer parte da personalidade do indivíduo será uma desqualificação para este caminho. Qualquer tipo de agitação é para ser evitado. Uma mente, que não esteja bem serena, não poderá auxiliá-lo a tocar mesmo a parte mais inferior do pedestal desta prática.

Toda nossa vida é preconcebida de ideias. A assunção de nossa personalidade pode ser tida como o principal obstáculo para o Yoga. As benções do céu nos chegam quando nossos intelectos estão corretamente direcionados.  O intelecto purificado ou a racionalidade em nós é a faculdade primitiva, que determina a extensão de nosso progresso nesse esforço, chamado prática do Yoga. Temos que observar que o que chamamos o caminho dourado de conduta, o qual é belamente descrito no sexto capítulo do Bhagavad Gita. Moderação em nossa conduta, equilíbrio no nosso comportamento, harmonia em nossa conduta são precondições para o Yoga. Devemos ser moderados no nosso comportamento. Não devemos ser excessivos com os outros ou com nós mesmos. Quando falarmos, não devemos falar demais. Isto é uma fraqueza. Fale apenas o que for necessário. Não deixe sua mente ficar agitada quando você se expressar em atos e palavras.

O mundo é o campo de treino do Yoga. Os objetos têm que se tornarem auxílios em sua prática ou invés de oposições ao seu esforço. A atividade dos sentidos, os pensamentos da mente e as necessidades do Espírito devem estar em conformidade um com o outro.  Esta é precisamente a prática envolvida no Yoga. Yoga não é nada além de conformidade do Espírito, a mente e os sentidos unidos. Yoga é um movimento de efeito em direção à causa, a inclinação do particular no universal, em maior e maior nível. A ação deve estar baseada na compreensão - então a vida torna-se Yoga. Yoga nos muda completamente e nos transforma em ouro, como se tivéssemos sido extraídos do ferro que éramos. Nos tornamos diferentes na própria substância. Existe uma transfiguração da personalidade. Crescemos em todo sentido do termo. Nada pode ser mais caro para o homem do que o Yoga, se  o indivíduo for capaz de saber o que realmente significa. Yoga não é meramente um assunto que o indivíduo escolhe para seus estudos. É um sistema que acomodamos em nosso próprio dia a dia pessoal e prático como se fosse uma arte, pelo qual podemos nos situar em uma maior proximidade para aquele grande ideal de toda a vida. Yoga não é um contato físico com algo. É a união do ser com o Ser.

A mente não se submeterá a qualquer ameaça ou conselho, se ela não for capaz de apreciar ou compreender o significado por trás do ensinamento de que vale a pena restringir a si mesma. Nossa insistência de que o mundo ou o universo está no nosso exterior é chamado mente. Estamos perpetuamente cometendo erros após erros em nossas vidas, e todos esses erros são consequências de nossa autoafirmação original que é chamada mente. A mente é para ser controlada, porque ela é a essência causadora do mal, e a causa raiz de todos os problemas da vida.

Mesmo aqueles que não sabem o que seja Yoga, e não a praticam, e não possuem nenhuma ideia sobre em essência, se aproveitam deste grande movimento chamado Yoga, que é, afinal, o objetivo de todos. Fundar o seu próprio self em sua própria natureza, o caráter universal, é o objetivo do yoga. A falsa impressão de que somos diferentes dos outros e que as coisas são constituídas de particularidades isoladas desaparece, e estabelecemos em nossa natureza essencial. A prática do Yoga, certamente, não é um assunto individual.  O maior serviço que o indivíduo pode fazer para a humanidade e para o mundo é entrar em Yoga. Nós não podemos nos isolar do bem estar social ou do bom do mundo da meditação do Yoga. Elas são unas e a mesma coisa.

Yoga é mais um estado de ser do que fazer algo exterior. Qualquer quantidade de obra externa pode não ser Yoga em tudo, porque o indivíduo será a mesma pessoa internamente com nenhuma diferença, se o panorama da vida da pessoa não muda. Yoga não é uma religião de forma alguma. Yoga é uma abordagem sistemática e científica para as coisas assim como elas são. Não tem nada a ver com o Hinduísmo ou Cristianismo ou qualquer outro "ismo". Yoga é como matemática ou lógica, quem não é Hindu, Muçulmano, ou Cristão. Yoga demanda um espírito dedicado por parte daquele que busca. Ele pede por uma completa rendição da personalidade do indivíduo para o grande propósito a ser alcançado através do Yoga. Yoga engloba toda nossa vida e não uma parte dela, porque a menos que tenhamos uma atitude em direção a alguma coisa, é uma completa atitude e não uma atitude meramente parcial. Yoga é para ser praticado com tremendo zelo e sentimento de intenso amor, transcendendo todos outros amores temporais neste mundo, um amor que engloba completamente outro amor. Não é para ser um dos amores entre muitos. Não. É para ser o único amor que o buscador pode ter.

Serviço altruísta é tido como pré-requisito essencial no processo purificatório para a prática final do Yoga. Uma disposição para a caridade na direção do próximo é a essência do serviço. Caridade de sentimento é a maior das caridades. Moderação é uma virtude maior do que completa abstenção. Completa abstenção pode não ser tão difícil quanto moderação. Cada dia temos que nos servir do Yoga assim como nos servir de nossa refeição matinal ou almoço ou ceia. Temos que amar isso como amamos nosso próprio pai e mãe. Não existe nada mais caro para nós do que nosso Yoga. Ele é uma vida, vital, existência substancial, e pensar nele como um pensamento abstrato é também dúvida na mente que deve ser removida. O tanto quanto possível, o indivíduo não deve fisicamente se colocar numa atmosfera seja de tentação ou ódio violento, porque eles empurrarão a mente do indivíduo, seja positivamente na forma de amor, ou negativamente na forma de ódio.

Toda a personalidade do indivíduo normalmente foge de Deus em nossa percepção das coisas e especialmente em nossos desejos. Este hábito de externalização da mente é restringido pelos métodos do Yoga. A maior pureza da mente se reflete na sua capacidade de acolher o pensamento da meta do Yoga. Qualquer contemplação mental de um objeto ou situação, que é suscetível de atrair a energia da mente na direção outra além daquela do Yoga, pode ser tida como um pensamento impuro. Continuamos nossas vidas diárias como uma questão de rotina, impulsionados impotentes pela força do hábito, mas para ser submetido a um hábito seria para ser um escravo desse hábito. Yoga é ter  domínio sobre os pranas, os sentidos e a mente, e o ganho de liberdade da sujeição escravizante servil de nós mesmos. Cada estudante de Yoga deveria ser um grande psicólogo de sua própria mente. Quanto ela é violenta, o que deve ser feito? Ele deve entender todas as técnicas da mente e deve saber como lidar com a mente em diferentes situações.  

Yoga é a abertura do broto da flor de nosso próprio coração diante do sol escaldante do Ser de Deus, e aqui a sinceridade de nosso coração será nosso guia. Yoga  não é meramente ação no sentido de senso comum do termo, mas ação procedente do ser de uma pessoa, e ação cada vez mais abrangente e completa como a dimensão do ser expande em si mesmo gradualmente no processo da prática do Yoga. Yoga como harmonia tem que ser posta em prática em sua relevância em cada nível da vida, mesmo em nossa cozinha e banheiro, nossos relacionamentos sociais e nossas vocações pessoais. Os grandes mestres do Yoga são pessoas normais.  Eles não são indivíduos estranhos parecidos com ascetas de outro mundo. Normalidade de comportamento é uma consequência espontânea que segue a partir de uma compreensão da totalidade da vida, que é basicamente Yoga.

Você deve ser muito sincero e honesto em seus esforços na direção do Yoga, e ele tomará conta de você. Ele não o abandona. Há milhões de organizações de bem-estar social no mundo, mas o que eles fazem com suas mãos e pés não é tão importante quanto o que eles estão pensando em suas mentes no momento que estão trabalhando. Num sentido podemos dizer que um Yogi é o maior trabalhador do bem-estar social. Ninguém pode fazer tanto bem ao mundo como um Yogi envolvido na meditação pode fazer.  Harmonia é chamado Yoga; equilíbrio é Yoga – equilíbrio entre a vida interior e exterior. Você não deve nem ser um introvertido nem um extrovertido, mas uma pessoa equilibrada. Todas as instruções e advertências no Yoga são para mantê-lo focado que você tem que levar uma vida espiritual no sentido verdadeiro do termo, e não como um fator isolado de sua vida. O espírito com o qual você vive neste mundo, atua, fala e trabalha, é sua espiritualidade. O indivíduo tem que aprender a cooperar com o mundo em cada um de seus estágios de manifestação – socialmente, fisicamente, psicologicamente, racionalmente, politicamente e espiritualmente – porque Yoga é a união total de si mesmo com a totalidade das coisas.

A tendência para o auto isolamento de todo o exterior é o oposto do Yoga, ainda que renúncia de qualquer tipo seja impossível sem Yoga. Renunciação não significa dissociação física com objetos, mas uma restrição da consciência da externalidade das coisas. Não existe nada sem importância e nada que possa ser negligenciado neste mundo do ponto de vista do Yoga. Tudo que é visível aos nossos olhos, tudo que estamos conectados, e tudo que possamos pensar em nossa mente, é de grande valor de uma forma ou de outra.

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