terça-feira, 18 de abril de 2017

27. O Centro do Problema Espiritual


Qual é o centro do problema espiritual da alma individual sobre este plano terreno, que está em um estado de escravidão limitada à uma consciência individual? É importante tentar compreender ou chegar à essência deste problema metafísico da alma aprisionada numa estrutura feita de carne e ossos, presa numa rede de pensamentos constantes e incessantes. Estes constituem uma malha interior na qual somos capturados e mantidos firmemente, pois a identificação com as dimensões psicofísicas de nossa personalidade é tão total, que se tornou normal. Tornou-se a única consciência que conhecemos. Tornou-se nossa condição natural, embora a psicologia védica a descrevesse como anormal. Ela é uma aberração.

Swami Vivekananda, tentando fazer sua plateia ocidental compreender este sutil ponto metafísico indicou há cem anos atrás, utilizando o termo “des-hipnose.” Quando eles sugerem que afirmações da Vedanta como “eu sou o Atman, sou imortal, sou sem nome e forma,”  fosse apenas uma forma de auto hipnose, ele respondia: “Pelo contrário, temos sido hipnotizados pelo pensamento, “eu sou este corpo, sou um ser humano, sou fulano e beltrano, pertenço a este família e país.” O que a Vedanta pretende fazer é des-hipnotizá-lo da condição de hipnotizado que você se tornou nascimento pós nascimento de errôneo pensar.”

Logo isto é o que temos que passar através de um processo tentando descobrir o que é isto no qual caímos através de eras de errôneo pensar. A Vedanta aponta esta condição como um estado de identificação com aquilo que não somos, um completo movimento para fora do centro da consciência natural do que somos.  Afastando, esquecendo completamente e tornando-se desconectado, como se fosse, da consciência do que realmente somos, como se entrássemos num estado de consciência identificando-nos e pensando ser algo que não somos. Somos espíritos imortais, mas pensamos que somos pessoas sujeitas a nascimento e morte, um início e um fim. Então, a Vedanta precisamente aponta nossa condição neste estado de esquecimento de nossa verdadeira natureza estando totalmente apanhados pela identificação com a consciência da personalidade que não é nossa verdadeira consciência.

Fora desta errônea identificação surge um falso sentido do ego, e somos mantidos escravos nesta errônea consciência dominada pelo ego e totalmente permeado pelo egoísmo, o que leva-nos a uma vida centrada em si mesmo. Esta é a doença atual, e esta condição parece ser nossa real condição, mas de fato ela é uma condição doentia. Ela é a doença da transmigração. A escravidão da vida terrena não está no seu exterior. Ela não é feita de outra coisa além do seu próprio eu. Ela não é o mundo exterior percebido pelos cinco sentidos que constitui samsara. Ela é este estado interior de tornar-se completamente privado de nossa verdadeira consciência e escravizado por uma errônea consciência dominada por um falso ego. É ainda mais complicada pelo egoísmo que é o resultado natural dos apegos a tantas coisas.

É essa errada consciência de nós mesmos, essa vida egocêntrica que é a causa raiz de todo choque e conflito com os outros, desarmonia, discórdia, suspeita e raiva. Tudo o que é negativo provém desse estado básico que liga, não de quaisquer fatores externos, mas de dentro. Portanto, o primeiro processo é de alguma forma perceber claramente isso, porque enquanto você não perceber claramente isso e aceitar honestamente este seu estado, a libertação estará longe, muito longe. É apenas uma fantasia, um vapor de imaginação. Devemos perceber claramente esse estado, e devemos ser honestos o bastante para admitir essa verdade dolorosa sobre o estado interno real de nossa consciência. Não é lisonjeiro, mas a menos que haja honestidade sobre si mesmo, não podemos entrar na vida espiritual, mesmo sabendo tudo sobre Vedanta, pois a vida espiritual tem duas dimensões: uma é a doutrina Vedanta da experiência derradeira, mas a outra é a atividade mundana. A menos que a Vedanta seja convertida à atividade mundana, ela será apenas um fardo para nós.

A filosofia será inútil a menos que seja trazida ao nível da prática, e tome a forma de sadhana na vida diária - em sua atividade diária, pensamento e sentimento, reação às coisas ao seu redor, e seu relacionamento com outras pessoas com quem você tem que viver. O próprio Deus providenciou isso para que a doutrina possa ser aplicada, para que possamos começar a nos mover para a experiência da Verdade. A menos que compreendamos que nossa posição no samsara seja assim, a menos que a vejamos como um ginásio no qual exercitamos e fortalecemos nossos músculos espirituais internos, seremos os perdedores. Estaremos sempre num campo maravilhoso, contudo não poderemos aproveitá-lo, porque pensaremos que a sadhana é em algum lugar em uma floresta ou dentro de uma caverna. É dentro de uma caverna, mas essa caverna está dentro de nós! Devemos ver muito claramente que ela está aqui; ela está na forma com que temos que evoluir. Se deixarmos de reconhecer esta oportunidade e perdermos o que Deus nos deu, então somos perdedores. Cada momento, cada dia que amanhece é uma grande chance e uma oportunidade dada. O campo é imediatamente reaberto de novo para que você possa exercer a prática Vedanta, para você colocar a filosofia em prática. Isso constitui a prática da vida espiritual. É o aspecto prático do Yoga e da Vedanta.

(Texto extraído e traduzido do site sivanandaonline.org)

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