quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


YOGA, SEU SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA

 PARA A SAÚDE

 Swami Chidananda*


A relização em Deus é um património e um direito para a humanidade de todas as eras. Os santos e sábios do passado descobriram que o objetivo último da vida humana é  atingir a Perfeição ou, em outras palavras, a realização em Deus. E essa descoberta feita por eles através de suas próprias buscas e lutas, posteriormente foi sistematizada num método científico de realização. O que eles atingiram através da luta espontânea, experiência e erro, por assim dizer, e evoluindo de uma verdade menor para uma verdade maior (isso, em última análise para o nosso benefício), eles sistematizaram um método científico de autodescoberta e realização – um sistema, um método, uma série de práticas, que no leva da ignorância para a luz do conhecimento, da morte e da mortalidade para a imortalidade e vida eterna, da tristeza e do sofrimento para um estado de felicidade absoluta, satisfação eterna, destemor e liberdade - (Paramananda Prapti-Sarvaduhkha Nivritti). Este sistema científico por eles desenvolvido e transmitido para a posteridade é o que conhecemos por Yoga.

Esses grandes seres, esses intrépidos pesquisadores do reino interior do ser espiritual do homem, essas grandes almas foram capazes de ultrapassar a morte, a dor e o sofrimento. Ao atingirem um estado de realização e iluminação, eles enviaram um chamado ao homem. Eles disseram: “Ei vocês mortais, labutando e chorando neste vale de lágrimas, neste mundo de nomes e formas fugazes, neste mundo de transitoriedade, mutável, de objetos perecíveis, não chorem, não tenham medo! Nós encontramos uma solução para o problema das dores e do medo da morte pelo homem. Fomos além da tristeza e experimentamos o brilho do sol eterno, alcançamos aquilo que torna o homem livre e liberado, que torna o homem destemido, que o torna preenchido com felicidade e paz. Nós mostraremos a vocês o caminho, diremos a vocês o caminho.  O que conseguimos, vocês também podem conseguir.” Então, eles enviaram àhumanidade – não a nenhuma nação ou raça em especial, não a um grupo ou religião específica. Eles disseram: “Oh homem, Oh mortal, venha, venha, ouça! Nós proclamamos de forma sucinta e breve o seu maior bem-estar. Estivemos cara a cara com o Ser radiante, além da morte, além da ignorância, atingimos Aquele que se tornou imortal. Brahman, a Realidade Suprema, o Deus Supremo de todas as religiões, Ele, que é adorado como Alá,  como Jeová, como o Pai Todo-Poderoso no Céu, como Ahuramazda, como Omkara, Ele, o Ser, O Sem Nome, - estivemos cara a cara com Ele. Você também pode alcançá-Lo. Venha, venha! " Assim, esses grandes seres, grandes sábios iluminados convocam o homem.

terça-feira, 23 de outubro de 2012


Mente, Liberdade e Aprisionamento

Swami Chidananda


Embora a psicologia moderna sustente a existência de uma relação positiva entre a mente e o espírito, ela nada diz sobre o espírito. Por não se tocar no ser espiritual, não existe nenhum conceito sobre ele. Eles dizem que o corpo e o ser psíquico estão intimamente ligados; mas isso de forma alguma afeta o ponto de vista Vedântico. Embora se saiba que eles estão indissociavelmente ligados, o que isso tem a ver com o Espirito? Porque Ele é diferente do ser psíquico e do ser astral. O espírito é distinto de todas as coisas que compõem esta personalidade humana. É diferente de tudo, exceto de sua Svarupa (natureza essencial), isto é, a natureza espiritual. Sua Svarupa é  espírito puro, ser puro, sem começo e fim, que não se altera, que é Consciência pura. Então, no final das contas, você deve conhecê-la como pura Consciência, Suddha Chaitanya, Chinmaya e Satchidananda.


Ora, pode haver uma diferenciação entre o Self e o corpo sem se perder a individualidade! Não é tão simples assim. Não é a diferenciação entre o Self e o corpo como normalmente entendemos. É a diferenciação entre o Self e tudo aquilo que é não-Self, não apenas o corpo, mas tudo o que é não-Self. Se você tiver força de austeridade, você entenderá o que é Self e o que é não-Self. E, tudo outro além do Self é categorizado por Patanjali como Prakriti. Então, no final das contas, afinal, o que você percebe em sua experiência de Nirvikalpa Samadhi é a distinção  entre Purusha e Prakriti. Purusha significa o Self e Prakriti significa tudo o que for não Self. Então, em Prakriti estão incluídos o corpo, os cinco sentidos, os cinco invólucros, o Antahkarana, os cinco Pranas, todos os Vasanas, todos os Samskaras, todo o processo mundano, todos os fenômenos, todas as percepções, etc.  Então, cada mudança da forma psíquica, na verdade, tudo o que é feito de sentidos, Prana, mente, e mesmo o ego e todas as suas diferentes modificações, as impressões, as inclinações e tendências estão incluídas em Prakriti. E uma vez que você conheça a diferenciação, você não sofre mais com o processo mundano. Então, existe uma distinção entre Purusha e Prakriti. E enquanto a mente estiver lá, esta distinção não pode ser completamente atingida. A perda da individualidade, a aniquilação da individualidade ou a destruição da mente não precisa ser uma preocupação para o aspirante porque essa individualidade, a falsa individualidade, não tem existência apropriada em si mesma. Esta falsa individualidade se deve em razão da consciência se encontrar embaraçada devido à sua proximidade com Prakriti. Quando esta proximidade é rompida, o que resta é a verdadeira entidade. A perda de uma coisa falsa não significa perda nenhuma. Quando compreendemos que esta consciência individual é parte de Prakriti e não faz parte da sua verdadeira entidade, esta perda ou destruição não tem nenhuma importância, nenhum significado. Então, não é um mero controle da mente que Raja Yoga objetiva. Nos estágios iniciais, é o controle da mente, de modo que um determinado estado possa ser alcançado por meio do exercício do controle da mente concentrada, no qual a mente cessa de existir. Nirodha, na Filosofia de Raja Yoga, é dito que constitui o Yoga. Nirodha, é somente até certo ponto, para se atingir um estado de meditação onde você deixa totalmente o plano da mente e do ego para entrar no estado de superconsciência. Lá a mente não mais existe. A mente torna-se extinta lá. Nesse estágio de superconsciência onde você percebe o Purusha, a mente cessa de existir. A menos que você atinja o plano onde não mais existe a mente, você não é capaz de conhecer o Self. O estado em que a mente deixa de existir é absolutamente indispensável para a experiência do Self. Contudo, para alcançar aquele estado de absoluto controle e absoluta cessação de todas as atividades da mente torna-se necessário galgar degraus, necessária disciplina, e com Raja Yoga se obtem tal quantidade de disciplina. Você transcende a mente, quando esta disciplina for perfeita. Transcendência da mente e perda da individualidade não deve ser motivo de preocupação do Sadhaka. Esta individualidade éa coisa mais perniciosa. Ela é uma grande doença lançada sobre a Consciência. Ela é uma cicatriz para a pura Consciência. Então, essa perda de individualidade é o maior ganho.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A MEDITAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA

Swami Chidananda*

 
A Meditação é o último processo quando o indivíduo coloca a fundação da vida espiritual, quando o indivíduo venceu a constante influência dos sentidos e tornou-se mestre de seus sentidos, quando através da discriminação e de verdadeira inquirição, o indivíduo percebeu o vazio absoluto de tudo que buscou, e, portanto, superou as tendências naturais da mente em direção às aparências e conseguiu se afastar completamente do desejo de nomes e formas e apego aos objetos e experiências, quando aprendeu as técnicas de retirar a mente das aparências exteriores, e quando o indivíduo passou a cultivar e a criar internamente um estado de equilíbrio e quietude. Na condição de se permanecer firmemente apoiado na virtude, em perfeito controle dos sentidos e autocontrole, na condição de conquistar os desejos e o domínio das próprias paixões, na condição de iluminação, na condição de estabilidade e equilíbrio interior, o indivíduo começa a recolher-se e mover-se para o conceito ou ideia do que sente da Realidade oposta às aparências. Isto – a concentração da totalidade do seu ser e a centralização deste poder concentrado numa direção específica escolhida – é o objeto da sua meditação, e a manutenção de um movimento contínuo e ininterrupto da totalidade concentrada nessa direção específica, de todo o seu ser. Assim concentrado e direcionado, quando o movimento ininterrupto é bem-sucedido, você encontra-se no estado de meditação.

Então isso é um movimento exitoso, contínuo, numa direção auto escolhida pela totalidadede do seu ser, centralizado numa unidade – um todo unificado – isto é chamado meditação. Todas as outras coisas são noções individuais particulares sobre meditação. Todas as outras coisas são apenas o que você pensa ser a meditação. Elas não são meditações. Meditação exige que o ser esteja perfeitamente assentado na virtude. Virtude quer dizer determinadas qualidades espirituais que são os pré-requisitos absolutamente indispensáveis para uma vida interior de meditação, sem a qual a meditação é impossível. Há certas qualidades espirituais, que são como os blocos de construção da estrutura, o que acabarão por atingir o auge da meditação. A Meditação é, por assim dizer, o cume da pirâmide, e esse cume não pode ser construído no ar. Ele é criado numa base ampla e em solo firme. A estrutura cresce e cresce e então você atinge aquele ponto onde existe somente um bloco - que é a meditação. E, portanto, é um processo que deve estar assentado na virtude. Virtude significa qualidades espirituais e por essas qualidades espirituais sobre as quais se insiste são muito simples de entender. Porque são as qualidades que o mantêm fora das forças de sua natureza que são a antítese direta da experiência Divina - fatores que são contradições diretas da experiência espiritual. Enquanto elas estiverem lá, não é possível ascender na experiência espiritual. Você não pode permanecer seco e molhado ao mesmo momento. E, para remover esses elementos só há um caminho. Ou seja, você tem que criar um forte movimento positivo em seu interior de forma que eles não mais existam. Eles não poderão permanecer, porque são apenas negações das forças positivas. Eles não possuem nenhuma identidade separada ou independente por si mesmos. Portanto, para superá-los, alguns fatores positivos devem ser criados em você. Esses fatores positivos são chamados de virtudes na falta de um termo melhor. São qualidades espirituais essenciais para manter fora de sua natureza os fatores que são diretamente contraditórios e a antítese da experiência que você está tentando alcançar.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Objetivo da Vida


Swami Sivananda
A vida do homem é uma indicação do que está além dele e do que determina o curso dos seus pensamentos, sentimentos e ações. A vida maior é invisível, e a visível é uma sombra lançada sobre a invisível que é a real. A sombra dá uma ideia da substância, e não podemos prosseguir o caminho da verdadeira substância pela percepção da sombra. A existência humana, em razão de suas limitações, desejos e várias formas de descontentamento, inquietação e tristeza, aponta para alcançar algo superior ao final, embora seja incompreensível a natureza deste final.

Como a vida nesta terra é caracterizada por incessante mudança e nada aqui parece ter o caráter de realidade, nada aqui pode contentar o homem completamente. O Bhagavad Gita se refere a este mundo como anityam, asukham, duhkhalayam, ashashvatam. Impermanente, infeliz, morada da tristeza, transiente. Os sábios de antigamente que se realizaram declaram isso. A Verdade é a Unidade. E que a meta da vida humana é a realização e a experiência desta Verdade.

O universo é inconstante, e é somente um campo de experiência dado aos indivíduos para que eles possam evoluir em direção a Mais Alta Verdade. É a glória do povo de Bharatavarsha (Índia) que para eles o universo visível não é real e apenas o Eterno invisível é real. Eles não acreditam naquilo que percebem com os sentidos. Eles têm fé apenas naquilo que é o fundamento de toda experiência, além dos sentidos, além mesmo da mente individual.

Devotos sinceros costumavam buscar abrigo nos grandes sábios que se purificavam na sagrada região dos Himalaias com sua poderosa presença, e vivenciaram a vida austera dos Yogis para alcançar a liberdade dos embaraços do vínculo da vida ligada à terra e descansarem na beatitude do Absoluto, Brahman. Isto eles consideravam a verdadeira vida, e assim, a forma de cumprir a lei do Eterno.

O grande legislador Manu, depois de descrever os vários princípios de Dharma, finalmente, afirma: De todos estes Dharmas, o Conhecimento do Self é o mais alto, ele está na verdade em primeiro lugar de todas as ciências; pois, através dele, se alcança a imortalidade. A busca de Dharma, Artha e Kama tem o seu significado na obtenção de Moksha que é o maior de todos os Purusharthas (finalidade da vida humana). Dharma é o valor ético e moral da vida; Artha é o seu valor material, e Kama é o seu valor vital, mas Moksha é o valor infinito de existência, que abrange todos os outros e é por si só muito maior do que todos. Existem outros como auxiliares ou preparatórios para Moksha. Sem Moksha, eles não têm valor e não transmitem nenhum significado. O seu valor está condicionado a lei do infinito, que é o mesmo que Moksha.

Os Vedas e as Upanishads são expirações do Ser Divino, e eles dão um profundo comentário sobre a vida espiritual. São exposições do significado e do propósito da vida humana e o método para transmutação da aparência mortal para a Essência Imortal. O caso do grande Nachiketas e a estória de suas aventuras em busca da Verdade narradas no eletrizante Kathopanishad serve de exemplo para todos os homens capazes de pensar e refletir.

Nada no mundo sensorial pode ser de valor verdadeiro. Isto é o que Nachiketas ensinou através de seu memorável ato de renúncia. Nem mesmo uma vida mais longa e imensa riqueza que lhe foram oferecidas puderam tentá-los. Ele perseverou em sua busca pelo Mais Alto, e ao final alcançou o Mais Alto. Nada menos que isso poderia satisfazê-lo. Assim são os verdadeiros heróis. Um verdadeiro herói não é quem é atacado por balas ou arrisca a vida em situações perigosas, luta em batalhas, mergulha em oceanos ou escala altos montes, mas quem subjuga seus sentidos e conquista sua mente, reconhece a suprema unidade da vida e deixa de lado dualidades e desejos. Alcançar isso é dever do homem; esta é a mensagem imortal dos sábios das Upanishads.

O emaranhado da experiência sensorial em que o homem está preso é quase irritante, e é difícil livrar-se dele. O homem é iludido pela noção da realidade nas relações chamadas externas das coisas e, assim, lhe advém a tristeza. O Mahabharata diz que o contato dos seres neste universo é como o contato de toras de madeira num rio que flui, temporário. No entanto, o apego a percepção dos sentidos é tão forte que os fantasmas são confundidos com os fatos, o impuro é confundido com o puro, o doloroso com o agradável, e o Self com o não-self.

A mensagem dos antigos sábios é que a vida que se vive no mundo dos sentidos é enganosa, pois esconde a Existência subjacente a todas as coisas e nos faz sentir que apenas a apresentação especial de formas perante os sentidos por si só é real. Crianças correm atrás dos prazeres externos e caem na grande rede da morte. Os heróis, no entanto, conhecendo o Imortal, não procuram o Eterno entre as coisas instáveis aqui., diz o Upanishad. O chamado dos antigos sábios ao homem é a seguinte: Oh filho do imortal! Conheça a si mesmo como o Infinito! Torne-se o Todo. Esta é a bênção suprema. Esta é a suprema felicidade. Esta é a mensagem imortal para o homem.

Os sábios vez e outra têm sublinhado: Se alguém O conhece (ou seja, o Ser Imortal) aqui, então eis aqui o verdadeiro fim de todas as aspirações! Se alguém não O conhece aqui, grande é a perda para ele . (Kenopanishad). E o sábio Yajnavalkya diz que de todas as grandes obras realizadas neste mundo, sem o conhecimento do Ser Único Imperecível, nada mais tem valor. Serviços humanitários; jejuns e caridade; vida política, nacional, social e individual; todas devem estar baseadas no sentimento de fraternidade universal que é a eterna expressão da Realidade da Individualidade universal.

A humanidade poderá ter esperança por paz quando esta condição, descoberta e afirmada pelos Rishis, a saber, quando respeitada a lei do Divino. A paz só poderá ser alcançada quando o sistema do Divino for respeitado e incorporado à vida. E esta paz é inversamente proporcional ao amor ao corpo, a individualidade e suas relações no mundo, no qual a humanidade encontra-se normalmente mergulhada. O despertar para uma consciência mais alta se faz necessário para que a desordem e o descontentamento possam ser abolidos.

A educação da humanidade na direção certa é a condição para a paz mundial. O materialismo, o ateísmo, ceticismo e agnosticismo galopantes nestes dias os quais têm roubado o homem da sua reverência para com o Supremo Absoluto são os principais responsáveis pelo egoísmo crescente, desejo, confusão, violência e agitação da mente que estão fervilhando no mundo. O homem deve saber que por trás da aparência de materialidade, singularidade, externalidade, a dúvida e a impermanência, está a realidade da espiritualidade, unidade e o infinito.

Sem o reconhecimento dessa realidade, a vida perde seu sentido e torna-se um vazio, desprovida de significado e propósito, morta, por assim dizer. Viver no divino é morrer para a estreiteza do mundo dos sentidos; e limitar-se a este último é destruir a si mesmo. (nas palavras do Isavasyopanishad). A tendência atual da vida precisa ser revista, e uma reorientação trazida à luz da moralidade, ética e espiritualidade. A mudança necessária não é apenas na forma externa, mas na própria perspectiva e na constituição interna do sistema de vida.

Isto pode ser feito quando os ideais do homem estiverem baseados nas verdades da espiritualidade da Unidade, elevados acima das crenças cegas, diferenças e materialidade. Quando isto for conseguido, o homem terá cumprido o seu grande dever aqui. Para o homem queimado pelo sol do deserto sem água do mundanismo, a única esperança está nas águas frias do Ganga da sabedoria, que flui das alturas do Himalaia dos sábios das Upanishads. Beba desta fonte perene, e refresque-se.