segunda-feira, 18 de junho de 2012

Princípios do Yoga

Swami Chidananda*

Yoga não está apenas no Samadhi Nirvikalpa. Esta em cada momento. Se um pensamento surge e se você não for capaz de observá-lo e suprimi-lo, você falhou no Yoga, você falhou no teste. Para cada pensamento, cada ação você deve fazer com que prevaleça seu domínio sobre seus Vrittis. Então a Yoga se realiza, e vive-se a vida divina; e qual o tempo que se toma para este processo? É um momento. Numa fração de segundo muitos fotogramas (películas de filmes) passam numa tela de cinema. Semelhante é o que ocorre com a mente. Todo o processo ocorre numa fração de segundo, começando a partir dos Samskaras e terminando com Cheshta ou a satisfação dos desejos. Através da experiência você adquire Samskara, com o Samskara você obtem Vasana, e a partir de Vasana você adquire Vritti. A imaginação torna Vritti num desejo. Então o ego se apega ao desejo e ele se torna uma pulsão, um Trishna. Agora você é forçado a fazer Cheshta - ação - para satisfazer o desejo. Este é o processo que ocorre na mente.
Os cientistas tentam inventar uma máquina de funcionamento contínuo, uma máquina que nunca pare e esteja sempre em funcionamento. Se você tiver que procurar tal máquina poderá encontrar em você mesmo, é a mente. Temos que lidar com a mente. Todos os Vasanas e Samskaras criados por você já estão lá e não há o que possa ser feito. Mas você pode ao menos fazer uma coisa. Pode impedir a formação de novos Samskaras. E também não deixar que os antigos Samskaras sejam reforçados por novos Samskaras. Como isto é possível? Diariamente você adquire novas experiências e diariamente você percebe muitas coisas com os seus órgãos dos cinco sentidos. Então, como podemos evitar que estas experiências criem impressões na mente? Existe alguma técnica? Como esses objetos entram na mente e formam os Samskaras? Eis um objeto. Você o percebe através de qualquer um dos seus sentidos. Primeiro ocorre o contato entre o sentido e o objeto. Essa é a primeira coisa, e então o que acontece? Até agora, apenas a parte exterior da personalidade do homem foi tocada. Supondo que você esteja profundamente entretido com alguma tarefa, e seu irmão ou irmã venha e coloque as mãos em você; você não fica ciente, embora o objeto tenha entrado em contato com o sentido, porque a sensação não foi transmitida para a mente, e a mente encontra-se afastada dele. Os objetos entram em contato com os sentidos e os sentidos transmitem para a mente, mas se você não estiver lá, se o sensação do 'eu' não estiver lá, as impressões costumeiramente adotadas pela mente não farão sentido para a pessoa. Assim, se o ego não estiver presente, o objeto não se aprofundará na mente. Se o ego encontra-se envolvido com algum outro pensamento, uma impressão especial trazida pelos sentidos não produzirá qualquer efeito. Mas se o 'eu' estiver presente, o objeto irá produzir efeitos na sua consciência, e se este ‘eu’ estiver num estado de desatenção, não estiver vigilante, estiver num estado de ilusão, num estado de mundanismo ou Rajas, ele será facilmente influenciado por essas percepções e criará em você um desejo pelos objetos.

Se você não estiver alerta devido à falta de compreensão do processo do pensamento, no momento em que o pensamento de um adorável objeto surgir em você, você irá segui-lo e o resultado é que você irá querer esse objeto. Quando você vê o dinheiro imediatamente você o deseja. Supondo que você chegou a este estágio, há apenas uma coisa a ser feita. O que você pode fazer? Você pode simplesmente queimar esse desejo e reduzi-lo a cinzas. Existe somente um fogo que queima todos os desejos; Nachiketas tinha esse fogo. Tantas coisas atraentes e sedutoras lhe foram oferecidas por Yama. Ele ofereceu dinheiro, beleza, força, poder, reinos e senhorios sobre todos os mundos, todos os Vidyas. Ele discorreu descrevendo sobre todos os mundos atraentes e sedutores, mas Nachiketas reduziu todos esses desejos a cinzas, porque ele possuía aquele fogo, que era Mumukshutva, aspiração. A aspiração é um fogo positivo no qual todos os desejos, apegos são lançados e reduzidos a cinzas. É o fogo que deve caracterizar todos os Sadhakas, Yogis e Vedantins que trilham a vida divina.

Se você quiser levar uma vida divina, o seu coração interior deve ser um lugar de aspiração e o fogo do Yoga deve sempre queimar dentro de você. Esta fogueira deve estar lá. Você não pode mudar completamente a parte exterior da vida, mas interiormente deve haver aspiração. Esse fogo deve queimar noite e dia, quando você estiver acordado, quando você estiver dormindo, quando você estiver sozinho, quando você estiver entre homens, quando você estiver meditando e quando você estiver envolvido no trabalho. Este fogo não deve ser colocado para fora. Esta aspiração deve sempre ser parte integrante do seu ser. Então você estará vivendo a vida divina. Se este fogo estiver lá, você não precisará se preocupar com o trabalho que você estiver fazendo ou em que lugar você estará vivendo. Porque, você vai estar levando uma vida divina. Você não deve ser vítima dos prazeres sensoriais. Mas você deve, a qualquer momento saber se, apesar de sua vigilância, um objeto entra no interior da consciência, como queimá-lo através da aspiração. Se antes de entrar você deve queimá-lo, quais seriam as técnicas? Existem duas técnicas. Uma técnica é manter a mente sempre interiorizada. Nunca permita que a mente esteja completamente extrovertida, de modo que mesmo aparentemente quando você estiver entre os objetos, os sentidos não estejam exteriorizados, mas voltados para o interior. Esta é uma técnica muito difícil, mas tem que ser praticada. Este Pratyahara é imprescindível. O ideal do aspirante deve ser sempre procurar adquirir esta importante qualificação - Pratyahara.

Outra coisa é ser indiferente. O que isso significa para você? Isso não significa nada para você em absoluto. Se um não-vegetariano vai a um bazar onde são vendidos peixes, aves, etc, poderá ficar com água na boca. Mas, supondo que ele seja um vegetariano estrito, tais produtos não significarão nada, porque não se ficará interessado neles. Mesmo assim, criaremos uma atitude interior de constante reflexão e meditação sobre a Realidade Suprema que irá revelar a futilidade do mundo, a inutilidade dos objetos terrestres, e a natureza perecível de toda a criação. Imbuindo constantamente tal consciência na personalidade do indivíduo, uma atitude mental será criada de forma que todas as coisas deixarão de ter qualquer significado para você, e então, mesmo quando surgirem tais coisas, não haverá uma resposta do interior, a este estado chamado Udasinata. Você simplesmente não está interessado​​, e quando há uma coisa que você não gosta, você não está ciente da sua existência. Esta atitude de não estar interessado por uma coisa deve ser universalizada. Um aspirante deve manter uma atitude de indiferença ao se encontrar nos meios dos objetos. Desta forma você deve se movimentar no mundo.

A atividade diária do homem constitue a própria essência do Yoga e da Vedanta. O indivíduo não deve cometer o erro de se afastar com a idéia de que apenas possuir um grande idealismo poderá desfrutar de todo o tipo de ação e palavra. Cada ação irá formar o caráter do indivíduo assim como cada gota irá formar o oceano. A atividade cotidiana do homem constitue a própria essência da vida divina, a verdadeira essência do Yoga e da Vedanta. Se o indivíduo estiver atento a cada pensamento e observar que a totalidade dos princípios da vida divina estão sendo observados na vida diária, os princípios que irão formar a fundação da vida espiritual, o edifício será formado por si mesmo.

Veracidade, compaixão, pureza,- essas são as grandes coisas que devem cobrir nossa vida totalmente até os mínimos detalhes. Um aspirante não pode se dar ao luxo de esquecer estes detalhes da vida divina, e toda a sua vida, pelo menos no início, deve ser caracterizada pela autocontrole. Se um Sadhaka acha que pode fazer qualquer coisa e também meditar, ele está enganando a si mesmo. Yoga não é um brinquedo; que você pode facilmente pegar e jogar. Portanto, cada ação deve ser feita com consciência.

A personalidade como um todo deve ser contida. Deve-se viver uma vida de moderação. Como disse nosso Gurudev Sri Swami Sivananda Maharaj em sua canção: "Coma um pouco, beba um pouco ..." temos que compreendê-lo em seu sentido apropriado. Há duas partes nessa música. "Coma um pouco, beba um pouco, converse um pouco, durma um pouco", quando ele diz estas coisas ele quer dizer moderação. Essas coisas não devem ser feitas em demasia. Não quer dizer que elas não sejam essenciais. Significa que você não deve exagerar. A vida instintiva de comer, beber, conversar, etc, deve ser reduzida ao mínimo. A outra parte onde Gurudev diz: "Faça Japa um pouco, faça Asana um pouco, faça Kirtan um pouco", não significa que não deva ser feito muito, aqui é o contrário. Sri Gurudev tem dito que todos esses itens são essenciais, e que para todos esses itens você deve encontrar um lugar no seu programa diário. Todas as coisas grosseiras que apenas dizem respeito ao corpo deve ser mantidas ao mínimo e a todos os aspectos mais elevados da Sadhana devem ser dado um lugar apropriado no seu programa diário. Este é o esboço geral da vida divina ou vida espiritual, para você. Todos estes, Japa, meditação, Kirtan, etc, formam o lado positivo. Viver uma vida de controle, e não atendendo aos desejos indevidos da mente e sentidos, compreendendo que, atender tais exigências é tornar-se cada mais escravos da mente e suas inspirações é o outro lado. Sempre mantenha-se no auto-controle e na instropecção e faça o melhor uso de suas horas de descanso em auto-estudo, de foma que seu Yoga possa ser alcançado. Nisto se resume os essenciais princípios do Yoga.

(* extraído do livro Guideliness to Ilumination)


Nenhum comentário:

Postar um comentário